Friday, December 07, 2007

Do futuro

Queria ser dona de academia de ginástica pra viver sarada e feliz liberando endorfinas.
Filosofar e teorizar, gosto mesmo é no boteco.
Vou-me embora pra Recife tentar achar meu norte.

Sunday, October 14, 2007

Do pós-moderno

Num domingo assim... tão londrino... estudar pós-modernismo...
Saudades de Londres, anos 80, quando eu nem sabia que habitava uma nomenclatura...

Sunday, April 29, 2007

Da verdade

O que não me mata me entristece, me enraivece, me desmerece, me entorpece, me engorda e não me fortalece.

As pessoas (professores, chefes e afins), autoridades sempre no meio daquele caminho que a gente acredita ser FINALMENTE aquilo que FINALMENTE queremos da vida poderiam tornar as coisas mais prazerosas em vez de só cagar na nossa cabeça. Por isso que é tão difícil achar essa tal felicidade. Tem sempre um coração de pedra no meio do caminho...

"Será que o postinho ainda tá aberto? Chocolate, coca e batata vão me deixar mais feliz até a próxima subida na balança! Será que o farmácia não me vende um rivotril sem receita? Não, não vende. Senão vai um serenus natureba mesmo. Preciso dormir essa noite, sem sonhar, esquecer por algumas horas que, há poucos meses, achei que seria tão diferente... que raiva! Continuo envelhecendo sem saber se um dia vou descobrir o que tem de bom pra se fazer o resto da vida..."

E tantas vezes me pego olhando pra essas autoridades que não têm riso... e dá um medo de me tornar uma delas no futuro... quando o que eu quero é só sorrir mais... e mais. Posso?

Saturday, April 14, 2007

Do tabagismo


Lauren Bacall, por favor

Conheço pessoas que não fumam. E conheço pessoas que não fumam e não querem que os outros fumem. As primeiras são infelizes. As segundas são miseráveis. Miseráveis mas realizadas: no mundo moderno, não fumar é marca de saúde física, mental --e, atenção, gente, moral também. Basta ver as medidas sanitárias que a Europa pretende aplicar. A curto prazo, os pacotes de cigarros dos europeus terão imagens-choque para afastar fumantes ativos ou passivos, presentes ou futuros. Como no Brasil. Mas pior, muito pior que o Brasil: corpos mutilados pelo câncer, cadáveres putrefatos. E, claro, a imagem triste de um pênis triste, precocemente arruinado. A idéia não é prevenir. Os fanáticos querem mais: querem humilhar o fumante, enfiar o fumante numa jaula de circo e dizer: "Olhem só como é decadente! Olhem só como é impotente!" Hitler não faria melhor.

Exagero? Longe disso. Robert Proctor, que as patrulhas higiênicas deviam ler, explicou tudo em The Nazi War on Cancer (Princeton University Press, 379 pp.). A leitura de Proctor é arrepiante mas a tese é magistral: as campanhas antitabagistas do mundo moderno nasceram na Alemanha das décadas de 1930 e 1940. Nasceram com a preocupação nazi em combater o vício e, óbvio, humilhar publicamente os viciosos. Humilhar consumidores de morfina. Cocaína. Coca-Cola. E enfiar os fumantes no gueto da vergonha social. Quando Hitler chegou ao poder em 1933, o tabaco era reconhecido como semente do mal. Causa de tudo.

Infertilidade. Impotência. Câncer. Enfarte. Comunismo. Uma ameaça direta à pureza da raça ariana e sua excelência física e mental. O próprio Adolfo se empenhou pessoalmente no caso. Ele não fumava. Ele gostava de dizer que não fumava. Nem ele, nem Mussolini, nem Franco --tudo boa gente. Pelo contrário: Churchill e Roosevelt eram conhecidos fumantes, exemplos de ruína pessoal e moral. A evitar.

Falou e disse: a partir de 1933, as campanhas estavam nas ruas. Gigantescas imagens onde o fumante típico era tratado como débil sem dignidade ou vergonha (tradução: um judeu manipulador que introduzira o cigarro na Alemanha para exterminar o povo nativo). Ninguém escapou. As donzelas viciosas eram pintadas em pose masculina, a versão clássica da 'mulher com barba', fenômeno de circo para horrorizar a burguesia. E homens fumantes eram seres sexualmente arruinados, com traços femininos, lânguidos, tristemente adocicados. O tabaco surgia em sagrada aliança com tudo que era condenável. Jazz. Swing. Álcool. Jogo. Cupidez. Devassidão. Orgia.

Azar: seis anos depois, os alemães estavam fumando a dobrar. Em 1933, o alemão médio fumava 570 cigarros por ano. Em 1939, antes da Segunda Guerra, fumava 900. Proctor avança razões. Todas elas sublinham o essencial: fruto proibido é mais apetecido. Histórica clássica. Bíblica. Razão de nossos prazeres e nossas desgraças. Ninguém deixa de fumar por causa do fanatismo de terceiros. Pior: o fanatismo de terceiros acaba por ser inútil --e até contraproducente. Conheço gente que não fumava -- e começou só por rebeldia. O velho spleen de que falava Baudelaire. Existe nos seres humanos um mecanismo de destruição que é preciso compreender, aceitar e tolerar. Se o mundo fosse feito de anjos, etc e tal.

Fumar faz mal. Mas também faz bem: as pessoas que fumam são mais tolerantes, mais calmas, mais interessantes. E invulgarmente mais pecaminosas. Uma mulher é uma mulher. Uma mulher que fuma é uma mulher que arrasa. Por isso proponho: todos os pacotes de cigarros deviam ter duas imagens. De um lado, o pênis caído. Do outro, Lauren Bacall chupando um Marlboro clássico. De um lado, pulmões enfiados em sujeira. Do outro, o rosto de Bacall enfiado em fumaça.

Fazemos assim: vocês ficam com o pênis, eu fico com Lauren.
(Por João Pereira Coutinho, colunista da Folha)

Falando nisso cabe uma do Quintana que adoro:
"Desconfia dos que não fumam, estes não tem sentimentos. Fumar é uma forma disfarçada de suspirar"

Saturday, March 17, 2007

De Albert Camus

Um dos meus professores do mestrado volta e meia citava Albert Camus no primeiro dia de aula. Não tinha ligado o nome à pessoa até ele escrever no quadro: Albert Camus. "Ah, é aquele Camus!", pensei pronunciando na minha cabeça o nome da maneira que se escreve. Agora aprendi que se pronuncia Camír... fiquei interessada em ler mais sobre este escritor tão mencionado pelo meu professor. O que mais me impressionou foi o desfecho da sua vida que mais parece literatura:

"Camus morreu em 1960 ao sofrer um acidente automobilístico. Em sua maleta estava contido o manuscrito do "O Primeiro Homem", um romance autobiográfico. Por uma ironia do destino, nas notas ao texto ele escreve que aquele romance deveria terminar inacabado. Em seu bolso constava um bilhete de comboio para sua viagem para fora do país, sob razões até hoje nunca esclarecidas"


Tuesday, February 27, 2007

Das horas

Se tantos momentos passam despercebidos, se tantas coisas não lembramos, quantas horas de vida sobram no final?

Friday, February 16, 2007

Da canção do exílio facilitada

Sabem aquele poeminha que todo mundo lê na escola? Aquele de Gonçalves Dias: "Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...". A canção do exílio! Lembraram? O poema é lindo, mas existe uma versão mais prática e divertida:

Lá?
Ah!

Sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...

Cá?
Bah!

José Paulo Paes

Monday, February 05, 2007

Da mainha, o retorno

Sabem a história do pardalzinho que narrei dois textos abaixo? Pois é. Depois de 31 dias em Recife chego na casa do aconchego em BH louca para repartir as lembranças que achei na minha cidade natal. Tinha histórias e pedaços de recordações concretas! Virei pra minha mãe:
-Tu lembra do pardalzinho que a gente achou no jardim em Londres e...
-O pardalzinho que o gato comeu? - perguntou ela de olhos arregalados
-O gato comeu, mainha?
-É, aquele gato que ficava entrando lá em casa. O pardal tava paradinho e ele NHAC! De uma vez só...
-Ai... sério?
-Sério... o que tem ele?
-Ah... não sei mais nada. Tô com pena do pardalzinho...
Falando nisso...
Quando estávamos em Londres, eu com 4 anos, minha mãe costumava me contar histórias antes de eu dormir. Um dia ela inventou de me contar "A pequena Sereia". Só que, na versão da Disney, a pequena Sereia vira gente e termina com o príncipe. Na versão da minha mãe, a pequena sereia perde a língua, a voz, o príncipe e ainda vira espuma. Pode ter uma história mais de terror?????? Quando ela terminou eu berrava e soluçava:
-Mainha... hic hic... ela ainda vira espuma, mainha?
Não lembro o que ela respondeu. Só faltava dizer que o gato que comeu o pardalzinho também comeu a língua da pequena sereia.
Essa mainha não existe...!!! O único defeito é que ela fuma cigarro de menta... :)

Friday, February 02, 2007

Do pôr do sol no Capibaribe, minha Tati

Eita Recife dos aperreios
Dá medo de não voltar pra casa
Além de outros tormentos e sentimentos sem graça
Mas a gente sempre volta
Porque lá dentro... dentro, dentro
Tem uma risada solta
Um comentário jocoso
Uma grosseria bem bolada
É Tati danada
Que bota a gente dentro de uma piada engraçada

Wednesday, January 31, 2007

Do meu irmão

Remexendo as caixas na casa do meu pai em Recife, achamos muita coisa boa. Fotos, fitas e cartas. E no meio de tanta nostalgia, uma carta do meu irmão Thiago, então com 8 anos. Ele mandava as novidades que encontrou em Londres onde moramos por 2 anos. A carta data de 25/03/87. Vou preservar a estrutura e a pontuação originais. Ele adorava ponto e vírgula. Complexo desde criança... :)
"Voinha e voinho como estão as coisas aí? Muitas coisas boas? Ou muitas coisas ruins? Tomara que só coisas boas. Vou começar as aulas no colégio e aprender o inglês. Como vão as empregadas? Dulcinéia a trabalhadora e Luisa a atrasada? Aqui em casa não tem empregada mas está tudo bem; as comidas estão boas e gostosas, eu tenho muitas novidades; todas úteis; umas torneiras aqui em vez de rodar para abrir e fechar é só empurrar e a água vai saindo depois a torneira vai subindo e a água vai acabando; a porta dos ônibus abre mais rápido porque ela vai se encolhendo e a gente vai entrando. Agora aconteceu uma coincidência toda vez que eu, Raquel e Pat vamos andar de ônibus a gente pega o primeiro lugar no mesmo ônibus, o número dele é 184, a gente também andou no metrô eu quero que vocês contem para todo mundo da família da gente essa notícia o metrô que a gente andou é o mais velho do mundo inteiro tem mais de 100 anos. Lá antigamente era onde as pessoas se protegiam das bombas. Aqui agora está uns 10 graus. Um beijão e um abração do seu amigo e neto Thiago"
Falando em Londres...
Painho em uma das cartas para vovô Adalberto conta que nós 3 ficamos melancólicos com o poema do pardal que ele mandou para os netinhos (não sabemos mais que poema é esse...). Painho continua dizendo que, logo depois, encontramos um pardalzinho no jardim que não conseguia voar. Eu, com 4 anos, na minha mistureba de inglês e português:
"Vem ver Thiago o pardalzinho que não consegue fly. Poor child..."
Agora mesmo está tocando uma fita K7 enviada para nós por Tio Lula, em 1984, quando estávamos não em Londres, mas nos EUA onde moramos por 4 meses. Tio Lula no teclado, acredito... vovó, vovô e Tia Raquel cantando e declamando poesias. Os primos André, Luquinha e Mariana, vozinhas finas, desejando que o tempo passe rápido pra gente voltar logo. A fita termina com Mariana com uns quatro anos e inglês impecável, cantando "I should be so lucky, lucky, lucky, lucky". E agarrada com Quel desde miudinha: "Tchau Quequel! Boa Varig!", termina Mari.
Fiz cara de choro-alegre...

Tuesday, January 23, 2007

Da cachaça

Era bom que, quando a gente tomasse uma, qualquer tipo de meio de comunicação deixasse de funcionar. Detectado o bafo do álcool, um dispositivo poderia ser acionado e o celular, msn e afins seriam automaticamente desligados. Infelizmente, a microsoft e as operadoras de celular ainda não perceberam o perigo da combinação bebida-produtos eletrônicos. Nem o Ministério da Comunicação... que poderia advertir: o álcool combinado aos meios de comunicação destroem a moral.

Thursday, January 18, 2007

Do Recife

Dias de coração de jujuba...

Monday, January 08, 2007

Do meu verão

Trinta dias em Recife
(Medo de ser assaltada)
Bronzezinho nas pernas
Abusar dos micro shorts e micro saias
Sandálias (de salto, claro!): ventinho nos dedos do pé e calcanhares
Diet Shake na dispensa
Tênis
Corrida na pracinha ou na orla da praia
Não usar maquiagem durante o dia
Óculos escuros gigantescos para esconder as sardas
Boné para esconder as sardas
Protetor solar fator um milhão nas sardas
Reclamar das sardas
Pedir pra painho me levar no dermatologista para tirar as sardas
Ouvir ele dizer que isso é besteira
Ficar deprimida com minha cutis de cor européia
Utilizar eufemismos como o de cima para me consolar
Maquiagem de leve no rosto
Detonar um potão de sorvete de cajá
Corrida na pracinha ou na orla da praia
Não pisar na areia
Nem molhar os pés na água do mar
Sentar numa mesinha do calçadão
Comer peixe frito e tomar cerveja gelada perto da hora do pôr do sol
Corrida na pracinha ou na orla da praia
Ler García Márquez na rede
Ver uma pilha de dvds
Depois de ter enfrentado o calor de Santa Maria, não xingar mais o de Recife
Morrer de saudade...

Óculos escuros: R$ 45,00
Vestido florido: R$ 30,00
Skol gelada: R$ 2,50
Ver o pôr do sol na praia de Boa Viagem sem o meu amor: não tem graça...

Do painho

Muitos protestaram porque vinha escrevendo aqui os casos cômicos de mainha. Mas quem não coleciona as pérolas dos pais? São histórias dignas de comunidades no orkut: "meus pais falam Maque Donalds". Lá tem relatos em comum das mais diferentes pessoas do Brasil. "Eita, que onda! Achei que essas coisas só aconteciam aqui em casa", admirou-se um membro da comunidade. Será que quando a gente for "pais" vamos cometer as mesmas proezas?
Enfim, depois de falar muito de mainha, vai aqui uma de painho. Foi em Porto de Galinhas, uma conversa entre amigos testemunhada por minha irmã Quel. O assunto em pauta era "filhos". Painho filosofou:
- É engraçado essa coisa dos filhos, né? Da gente ver neles o nosso jeito... Thiago, por exemplo, tem essa coisa da responsabilidade. Pati puxou de mim essa coisa de filosofar sobre a vida, sobre o sentido da existência...
Quel, de soslaio, prestava atenção ansiosa pela sua vez...
- E Quel... Quel... Tem essa coisa, essa minha coisa... de gostar de farofa!
- Eita, painho! - protestou a bichinha*
-Mas num é minha filha? Você num gosta duma farofinha?
*expressão nordestina equivalente à "tadinha"

Wednesday, January 03, 2007

Do tempo

"Seu Hamil tinha me dito muitas vezes que o tempo vem lentamente do deserto com suas caravanas de camelos e que não tinha pressa, porque transportava a eternidade. Mas é sempre mais bonito quando se fala do que quando a gente vê no rosto de uma velha pessoa que é roubada todos os dias um pouco mais e, se querem minha opinião, o tempo é um bando de ladrões que é preciso procurar"
Trecho de "Toda vida pela frente", de Emile Ajar (Romain Gary)