Wednesday, April 22, 2009

Da essência



Pandora sempre foi uma caixinha de surpresas. Desde pequena surpreendia a famiília com sua sagacidade e jeito imprevisível. Começou a ler antes de aprender na escola. No carro com a mãe, o jornal em cima do colo, soletrou uma palavra da manchete principal: PE-CA-DO. A mãe quase bateu o carro de susto... e orgulho. Mal sabia ela que há muito Pandora costumava segredar para si as palavras dos outdoors da cidade. Tinha só cinco anos.
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Cresceu ouvindo que o sexo feminino deveria prezar a independência porque os homens não prestam. Com 16 anos e corpo de mulher começaram os estragos. Aos 22 - estagiária de uma empresa de comércio exterior -, de tailler moderninho e salto agulha, pisoteava corações masculinos. O figurino era recheado com um corpinho de 1.75 m e clássicas medidas 90-60-90.
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Aos 25, já contratada pela empresa de comércio exterior, as medidas mudaram. Ela não. A primeira e a última ganharam alguns ml de silicone: 96-60-102. Números não mais arredondados, em compensação o corpo sim. Este também ganhou mais adeptos.
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Cercada de "homens vazios", como ela mesma dizia, fazia do jogo da sedução seu melhor passatempo. E o sofrimento dos pobres que se achavam pretendentes, sua melhor recompensa. Cultivava nos outros os pecados da luxúria e da ira. Controlava a avareza, a gula e a preguiça. Despertava a inveja feminina. Emanava soberba.
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Aos 29, funcionária pública bem sucedida e residindo nos arredores da Lagoa Rodrigo de Freitas, perdeu a graça de viver. Sentia falta de um bração constante que a envolvesse na hora de dormir. Alguém do sexo oposto para lhe fazer carinho no domingo à noite. Pra brindar um cálice de vinho tinto num dia feliz. Pra brigar pela fatia de bolo mais recheada. Queria um filho.
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Conheceu Matoso, nordestino da porra, funcionário público em estágio probatório. Bonitão, morenão, machão, diferente dos tipos modernos e sensíveis a que tinha se acostumado. Ficou louca. Ele cultivou nela a luxúria, a ira, a gula e a preguiça. Ela passou a despertar a compaixão feminina quando deixou a soberba embrulhada na gaveta da escrivaninha do Matoso. Aos 32 casou, teve 3 filhos homens e emendou a licença maternidade com o trabalho doméstico.
Pandora descobriu-se Amélia...

27 comments:

  1. Muito bom seu texto, gostei do final Emendou a licença maternidade com o trabalh domestico.

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  2. E aí, aos olhos da sociedade, talvez tenha virado "mulher de verdade", pois Amélia é que era...

    Muito bom seu texto! Parabéns!

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  3. Um final trágico para quem tina o mundo aos seus pés.

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  4. muito bom o texto... kkkkk
    gostei mesmo com o final tragicomico... kkkk abraço ai

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  5. Muito bom..acho que no fim todos acabamos encontrando alguem né.

    xD~

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  6. Muito inteligente. Um mulherão que no final, tornava-se dona de casa. Parabéns pelo blog!!!

    http://www.revistacontextosg.com

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  7. Começou bem, mas depois caiu na trilha da maioria:casamento, filhos.....etc

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  8. Pandora é que era mulher de verdade...

    Tirava a calcinha e ficava à vontade, ah meu Deus que saudade da 'boceta de pandora' (veja no google que vc descobrirá que não tem nenhum palavrão aí. É pura mitologia!rs)

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  9. Concordo com o Cleber, mesmo assim, foi bem escrito e criativo...


    http://tudoehblog.blogspot.com/

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  10. esse final foi infeliz,mas no inicio,a foto,ele foi feliz

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  11. Acho que o cléber tá falando da Pandora... ;)
    Espero... rs

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  12. Muito bom!! Vou adicionar a minha lista, ok?

    ps: desculpe o comentário tosco... estou em horário de serviço, rs!

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  13. Haha legal o texto dificil eu ficar lendo mais acabei lendo esse ae ^^

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  14. Adorei o texto! Me lembrou as estórias do Nelson Rodrigues.

    Parabéns pelo seu blog.

    quando tiver um tempinho me faça uma visita.

    bye

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  15. Estou comentando pelo Voluntários em Ação.

    Que triste pra quem tinha tudo! Muito bom.

    Confere também: www.blogvoluntario.org.br

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  16. Adorei!
    Pandora achava que tinha que ser como ela sempre tinha ouvido que deveria... mas nossa busca encontra muito vazio e em um momento descobrimos nossa verdadeira essência. Aposto que pandora está muito feliz. A não ser pelas crianças que devem estar adolescentes e problemáticas...rs.

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  17. detalhe. acho que precisa se redimir... estava lendo e me deliciando com o texto... enquanto você estava me caluiando me chamando de caloteiro... rs.

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  18. aguardo uma boa reparação... não vale comentar qq coisa como se tivesse lido...

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  19. coitada, se f*deu shaushaushau.
    Mas na vida real existe tantas historias assim que a gente acaba rindo pra nao chorar.
    Adorei seu blog, ficarei feliz se passar no meu:
    http://thaischagas.blogspot.com/

    bjs

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  20. Terminar como Amélia? Putz!! É uma crítica à postura de mulher fatal? Até caiu bem...

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  21. Prefiro Amelias da vida, Pandoras tem graça nos momentos criticos, mas sinceramente, é um tipo de pessoa q não me chama atenção para ter algo, no maximo um elogio de "ela é bonita", pq geralmente beleza demais significa a perda de alguns atributos melhores e mais duradouros. =)

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  22. Haha... adorei!

    Falando nisso, por onde andou todo este tempo?!

    É uma pena que só agora eu tenha encontrado o teu blog, gostei muito. Ao menos, a primeira impressão foi das melhores.

    Kiso

    http://garotapendurada.blogspot.com/

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  23. Eu com uma Amélia dessas... ela nunca deixaria de ser Pandora...

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  24. Ah... os pecados capitais e a vida como ela é! Eu também já fui assim, como ela... Hoje sou assim, como sou. Pai de família e envelhescente assumido.
    Bom texto, parabéns! Tanta porcaria nos blogues por aí, que causa até surpresa um conto como este. Não é à toa que seu blogue bomba!

    bj
    Cesar

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  25. S H O W D E T E X T O !!

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  26. Anonymous06 May, 2009

    Acho que sou essa Pandora... Tirando todas as curvas, que não me são tão acentuadas assim!!!!

    Parabéns!!! Blog MARA!!!

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