Era uma vez um lugar úmido, gelado e cinza. No meio desse nada, habitava, num edifício de concreto frio, uma espécie de cobra criada nos confins do butantã... uma serpente de sotaque paraense, que tentava aprisionar seres humanos de boa índole que, por infelicidade do destino, lá aterrissavam. Ela tinha uma cabeçorra de um amarelo opaco reluzente, uma arrogância sedutora de cobra criada e expelia veneno bonachão pela boca repuxada e linguinha repartida que, ao final de cada frase, deixava escapar um "sssssssss". Nesse lugar, entravam pessoas em busca de conhecimento, de exemplos de vida, de educação, de um título. Gente jovem. Aprendizes que, ironicamente, tinham a obrigação de tê-la como mestra. Conquistava os mais inocentes que adentravam no meio. Isso conseguia com sua dissimulação nata capaz de superar qualquer personagem machadiana. No entanto, repulsava os que lá iam há mais tempo, já portadores do soro antiofídico nas veias graças à convivência com outras cobras de espécie (um pouco) inferior.
Dedicou um semestre inteiro expelindo veneno contra aqueles que podem ser chamados de homens (pois neles há o que se pode chamar de "humanidade") e, portanto, a ela superiores. Homens que sabem escrever. E escrevem. E publicam suas idéias. E repassam conhecimento para um mundo além daquele concreto frio, como também pros que ali estão, ainda novos, tentando se formar como intelectuais e como gente, mas divididos entre a sedução maquiavélica da serpente e o caminho dos homens. A competência e dedicação dos iniciantes, dentro da salinha da serpente de sotaque paraense, não contam. O que vale são os seus interesses pessoais. Prejudica os jovens imaturos de vida para conseguir atingir os homens lá estabelecidos, seus inimigos mortais.
Não se deu conta ainda, a pobre (pobre, pobre, pobre de espírito serpente) que é o homem superior em inteligência e dela é predador. Enquanto não é pelo homem derrotada, lá continuam se formando homens e serpentes. Lá..no departamento da Santa Mediocridade.