Saturday, December 30, 2006

Da "homenage"

Do meu grande e sempre professor de literatura Octavio Da Matta, literatura de cordel:
"A minha querida Pati
é mestre no jornalismo
gosta de literatura
sabe também modernismo
e agora também dá aulas
com todo esse brilhantismo.
De Belô a Porto Alegre
sai espalhando cultura
entrevistando a gente,
fazendo literatura
e além de tudo a guria
é a maior formosura.
Minha querida Patrícia
rendo aqui essa homenage
pra essa pessoa que leva
carinho e amor na bagage
saúde, sorte e sucesso
pra você nessa viage"
Tudo isso feitinho de improvisu, bem pontual, numa prosa virtual...

Tuesday, December 26, 2006

Da essência

Pandora sempre foi uma caixinha de surpresas. Desde pequena surpreendia a famiília com sua sagacidade e jeito imprevisível. Começou a ler antes de aprender na escola. No carro com a mãe, o jornal em cima do colo, soletrou uma palavra da manchete principal: PE-CA-DO. A mãe quase bateu o carro de susto... e orgulho. Mal sabia ela que há muito Pandora costumava segredar para si as palavras dos outdoors da cidade. Tinha só cinco anos.
Cresceu ouvindo que o sexo feminino deveria prezar a independência porque os homens não prestam. Com 16 anos e corpo de mulher começaram os estragos. Aos 22 - estagiária de uma empresa de comércio exterior -, de tailler moderninho e salto agulha, pisoteava corações masculinos. O figurino era recheado com um corpinho de 1.75 m e medidas 90-60-90. Aos 25, já contratada pela empresa de comércio exterior, as medidas mudaram. Ela não. A primeira e a última ganharam alguns ml de silicone: 96-60-102. Números não mais arredondados, em compensação o corpo sim. Este também ganhou mais adeptos.
Cercada de "homens vazios", como ela mesma dizia, fazia do jogo da sedução seu melhor passatempo. E o sofrimento dos pobres que se achavam pretendentes, sua melhor recompensa. Cultivava nos outros os pecados da luxúria e da ira. Controlava a avareza, a gula e a preguiça. Despertava a inveja feminina. Emanava soberba.
Aos 29, funcionária pública bem sucedida e residindo nos arredores da Lagoa Rodrigo de Freitas, perdeu a graça de viver. Sentia falta de um bração constante que a envolvesse na hora de dormir. Alguém do sexo oposto para lhe fazer carinho no domingo à noite. Pra brindar um cálice de vinho tinto num dia feliz. Pra brigar pela fatia de bolo mais recheada. Queria um filho.
Conheceu Matoso, nordestino da porra, funcionário público em estágio probatório. Bonitão, morenão, machão, diferente dos tipos modernos e sensíveis que tinha se acostumado. Ficou louca. Ele cultivou nela a luxúria, a ira, a gula e a preguiça. Ela passou a despertar a compaixão feminina quando deixou a soberba embrulhada na gaveta da escrivaninha do Matoso. Aos 32 casou, teve 3 filhos homens e emendou a licença maternidade com o trabalho doméstico.
Pandora descobriu-se Amélia...

Wednesday, December 20, 2006

Do calor de Santa Maria


No verão que deixei Santa Maria, no Centro do Rio Grande do Sul, deixei pra trás só o calor. O resto veio comigo. Pelo menos em um aspecto fiquei feliz ao entrar no ônibus com ar condicionado. Olhava triste para o Igor da janela e, além de triste, ele, tadinho, me olhava com calor. O termômetro da rodoviária condenava quarenta graus sufocantes. Para se ter uma idéia, no tórrido dezembro dentro da república, quando os moradores saíam para a aula, eu juntava o ventilador de todo mundo, ao todo três, em cima de mim. Era só sair da rota dos ventinhos que o suadouro recomeçava. Sim, não é só de frio que vivem os gaúchos. E quando me sentia abafada, irritada, prestes a pular da janela e quase rouca de tanto gritar: "Senhor, que calor!", me vinha Manuel Bandeira na cabeça, refrescando (pelo menos) a memória: "Tu reclamava de barriga cheia do calor de Recife, muié".
Brisa

Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.
Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:Vamos viver de brisa, Anarina.
(Manuel Bandeira)

Tuesday, December 19, 2006

Do Rio Grande do Sul II

Até o domingo à noite é bom...

Monday, December 11, 2006

Da decepção

Muitos já sabem que Igor, meu namorado, é canhoto das idéias. Membro da União Nacional dos Estudantes e filiado ao Partido dos Trabalhadores, ele luta contra as injustiças sociais. Morro de orgulho! E Confesso que muito tenho aprendido com ele. A sociedade pra mim tem outra cara agora. Mas às vezes nossas palavras ainda trombam... Tipo assim:
- Ei, amor! Sabe o que meu pai ganhou de natal de dois clientes?
- O quê?
- Um palmtop e um laptop!
Ele que estava deitado com a cabeça no meu peito, esticou o pescoço e me encarou:
- Mas teu pai é médico de elite então???
- Anhan. O melhor médico tem que cobrar caro, né? - corujei
- E ele ainda salva a vida deles?!
Gargalhadas e beijinhos. Silêncio.
- Mas é com o dinheiro dessa elite que às vezes a gente faz umas farrinhas boas...
- Báh... - murmurou decepcionado