Fazer um mestrado em busca de mais conhecimento. Esse foi o meu propósito maior. Nem sabia (e continuo não sabendo) se iria enveredar pelos hoje-sei-tortuosos caminhos acadêmicos. Escolher o curso de Letras, foi no intuito mesmo de ampliar o saber, adentrando noutro universo das ciências humanas que não o da minha graduação, o jornalismo. Mas as coisas não foram tão românticas como eu imaginava. Penderam mais para o deprimido poema do Beco* de Bandeira ou para um desaforado Gregório de Matos, quando da melancolia e desânimo eu atravessava para a fúria emitindo impropérios pela minha boca que mais parecia do inferno.
Além do trio de professores tiranos que o levado destino me aplicou, a teorização de determinados conceitos me irritavam profundamente.
O QUE É LITERATURA?
Eu pensava cá comigo "sei lá, porra", sentada, dura, numa cadeira pra mim elétrica, com aquela stalinista de sotaque venezuelano me encarando com um fuzil nos olhos e fazendo essa pergunta idiota. Depois fui pensando meu conceito e, como jornalista, já tenho um pronto: "Literatura é escrever sem apurar" e ponto final.
Me irritava mais ainda as teorizações sobre a diferença entre autor e narrador, as discussões sobre a morte do autor (af!) e qualquer outra bobajada que me fez, por dois anos, não ler um livro levemente... como eu lia antes do mestrado. Tentar fazer da literatura uma ciência? Então tirem a graça dela como bem o fizeram nesse programa de pós-graduação (não sei dos outros pelo Brasil, falo da minha experiência)!
E naquele tempo de teorias "profundas" ia me dando saudades da aurora da minha vida, minha infância, quando eu tinha só que responder perguntas do tipo:
- O que é o vento, Patrícia?
-É o ar em movimento, professora.
Resposta simples e direta. Mas que pelo menos faz um sentido danado.
*O poema do Beco para quem não conhece:
Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
— O que eu vejo é o beco
(Manuel Bandeira)