Fui fazer uma matéria para a revista Sagarana (www.revistasagarana.com.br) com um artista plástico mineiro renomadíssimo. Já tinha percebido um tom de desgosto quando conversei com ele ao telefone. Fiz uma pesquisa prévia antes de entrevistá-lo, claro. Prêmios, inúmeras exposições no Brasil e exterior e elogios da crítica foram o que encontrei. Achei que ele tinha motivos para ser feliz.
Cheguei no seu casarão imponente. Um lugar lindo, quieto, espaçoso, emoldurado por montanhas. Deve ser muito bom pintar num lugar como aquele. Vários cachorros deixavam o ambiente menos solitário. O homem que eu acreditava ser feliz trazia um ar de consternação. Abriu o portão com uma cara enfezada, o cabelo despenteado e a camisa suja de tinta. Foi hostil logo de cara. Reclamou do horário e se recusou a tirar fotos para a matéria. "Detesto dar entrevista ainda mais a essa hora da manhã. E não vou posar para foto porque vai parecer coluna social". Parecia até que tínhamos chegado de surpresa, mas tinha marcado dia e hora, diretamente com ele, com antecedência. Fiquei meio sem reação, contrariada, mas tinha um quê de simpatia por ele que vinha não sei de onde.
Ele andava de um lado para o outro. Sentava e levantava. Apagava um cigarro e logo acendia outro. Falava rápido, misturava os assuntos e eu mal conseguia anotar. Minha linha de raciocínio ficou torta. Então parti para a solidariedade típica dos fumantes. "Posso acender um cigarro também?". Ele foi carismático, respondendo afirmativamente com veemência. A partir daí começamos a nos entender.
Falamos da sua vida pessoal, profissional, dos seus gostos, crenças e desilusões. Ele confessou estar deprimido com a situação do país e com os valores do homem contemporâneo. Reclamou, reclamou, reclamou de tudo. Mas, no fim, entendi que ganha dinheiro com o que gosta. Ele cultiva o isolamento para produzir melhor. Mas também nem gosta de badalações. Um homem só que deixa só o seu nome correr por aí.
Antes de eu ir embora, ele me deu um livrinho sobre a sua vida para enriquecer a matéria. E ainda se deixou fotografar.
Não tive raiva. Tive vontade de pegar no colo.
Rendeu uma bela matéria...
3 comments:
Xou de Bola Paty!!!!
=)
beijãoooo
LEGAL demais! Fiquei imaginando o rosto do artista e você conseguiu realmente fazer uma narração super envolvente. Adorei.
Beijos.
Amarilio
sem comentários.
ainda tens dúvida quanto a "jornalistar"?
nada mais do que isso.
louka.
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