Saturday, March 17, 2007

De Albert Camus

Um dos meus professores do mestrado volta e meia citava Albert Camus no primeiro dia de aula. Não tinha ligado o nome à pessoa até ele escrever no quadro: Albert Camus. "Ah, é aquele Camus!", pensei pronunciando na minha cabeça o nome da maneira que se escreve. Agora aprendi que se pronuncia Camír... fiquei interessada em ler mais sobre este escritor tão mencionado pelo meu professor. O que mais me impressionou foi o desfecho da sua vida que mais parece literatura:

"Camus morreu em 1960 ao sofrer um acidente automobilístico. Em sua maleta estava contido o manuscrito do "O Primeiro Homem", um romance autobiográfico. Por uma ironia do destino, nas notas ao texto ele escreve que aquele romance deveria terminar inacabado. Em seu bolso constava um bilhete de comboio para sua viagem para fora do país, sob razões até hoje nunca esclarecidas"


Tuesday, February 27, 2007

Das horas

Se tantos momentos passam despercebidos, se tantas coisas não lembramos, quantas horas de vida sobram no final?

Friday, February 16, 2007

Da canção do exílio facilitada

Sabem aquele poeminha que todo mundo lê na escola? Aquele de Gonçalves Dias: "Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...". A canção do exílio! Lembraram? O poema é lindo, mas existe uma versão mais prática e divertida:

Lá?
Ah!

Sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...

Cá?
Bah!

José Paulo Paes

Monday, February 05, 2007

Da mainha, o retorno

Sabem a história do pardalzinho que narrei dois textos abaixo? Pois é. Depois de 31 dias em Recife chego na casa do aconchego em BH louca para repartir as lembranças que achei na minha cidade natal. Tinha histórias e pedaços de recordações concretas! Virei pra minha mãe:
-Tu lembra do pardalzinho que a gente achou no jardim em Londres e...
-O pardalzinho que o gato comeu? - perguntou ela de olhos arregalados
-O gato comeu, mainha?
-É, aquele gato que ficava entrando lá em casa. O pardal tava paradinho e ele NHAC! De uma vez só...
-Ai... sério?
-Sério... o que tem ele?
-Ah... não sei mais nada. Tô com pena do pardalzinho...
Falando nisso...
Quando estávamos em Londres, eu com 4 anos, minha mãe costumava me contar histórias antes de eu dormir. Um dia ela inventou de me contar "A pequena Sereia". Só que, na versão da Disney, a pequena Sereia vira gente e termina com o príncipe. Na versão da minha mãe, a pequena sereia perde a língua, a voz, o príncipe e ainda vira espuma. Pode ter uma história mais de terror?????? Quando ela terminou eu berrava e soluçava:
-Mainha... hic hic... ela ainda vira espuma, mainha?
Não lembro o que ela respondeu. Só faltava dizer que o gato que comeu o pardalzinho também comeu a língua da pequena sereia.
Essa mainha não existe...!!! O único defeito é que ela fuma cigarro de menta... :)

Friday, February 02, 2007

Do pôr do sol no Capibaribe, minha Tati

Eita Recife dos aperreios
Dá medo de não voltar pra casa
Além de outros tormentos e sentimentos sem graça
Mas a gente sempre volta
Porque lá dentro... dentro, dentro
Tem uma risada solta
Um comentário jocoso
Uma grosseria bem bolada
É Tati danada
Que bota a gente dentro de uma piada engraçada

Wednesday, January 31, 2007

Do meu irmão

Remexendo as caixas na casa do meu pai em Recife, achamos muita coisa boa. Fotos, fitas e cartas. E no meio de tanta nostalgia, uma carta do meu irmão Thiago, então com 8 anos. Ele mandava as novidades que encontrou em Londres onde moramos por 2 anos. A carta data de 25/03/87. Vou preservar a estrutura e a pontuação originais. Ele adorava ponto e vírgula. Complexo desde criança... :)
"Voinha e voinho como estão as coisas aí? Muitas coisas boas? Ou muitas coisas ruins? Tomara que só coisas boas. Vou começar as aulas no colégio e aprender o inglês. Como vão as empregadas? Dulcinéia a trabalhadora e Luisa a atrasada? Aqui em casa não tem empregada mas está tudo bem; as comidas estão boas e gostosas, eu tenho muitas novidades; todas úteis; umas torneiras aqui em vez de rodar para abrir e fechar é só empurrar e a água vai saindo depois a torneira vai subindo e a água vai acabando; a porta dos ônibus abre mais rápido porque ela vai se encolhendo e a gente vai entrando. Agora aconteceu uma coincidência toda vez que eu, Raquel e Pat vamos andar de ônibus a gente pega o primeiro lugar no mesmo ônibus, o número dele é 184, a gente também andou no metrô eu quero que vocês contem para todo mundo da família da gente essa notícia o metrô que a gente andou é o mais velho do mundo inteiro tem mais de 100 anos. Lá antigamente era onde as pessoas se protegiam das bombas. Aqui agora está uns 10 graus. Um beijão e um abração do seu amigo e neto Thiago"
Falando em Londres...
Painho em uma das cartas para vovô Adalberto conta que nós 3 ficamos melancólicos com o poema do pardal que ele mandou para os netinhos (não sabemos mais que poema é esse...). Painho continua dizendo que, logo depois, encontramos um pardalzinho no jardim que não conseguia voar. Eu, com 4 anos, na minha mistureba de inglês e português:
"Vem ver Thiago o pardalzinho que não consegue fly. Poor child..."
Agora mesmo está tocando uma fita K7 enviada para nós por Tio Lula, em 1984, quando estávamos não em Londres, mas nos EUA onde moramos por 4 meses. Tio Lula no teclado, acredito... vovó, vovô e Tia Raquel cantando e declamando poesias. Os primos André, Luquinha e Mariana, vozinhas finas, desejando que o tempo passe rápido pra gente voltar logo. A fita termina com Mariana com uns quatro anos e inglês impecável, cantando "I should be so lucky, lucky, lucky, lucky". E agarrada com Quel desde miudinha: "Tchau Quequel! Boa Varig!", termina Mari.
Fiz cara de choro-alegre...

Tuesday, January 23, 2007

Da cachaça

Era bom que, quando a gente tomasse uma, qualquer tipo de meio de comunicação deixasse de funcionar. Detectado o bafo do álcool, um dispositivo poderia ser acionado e o celular, msn e afins seriam automaticamente desligados. Infelizmente, a microsoft e as operadoras de celular ainda não perceberam o perigo da combinação bebida-produtos eletrônicos. Nem o Ministério da Comunicação... que poderia advertir: o álcool combinado aos meios de comunicação destroem a moral.

Thursday, January 18, 2007

Do Recife

Dias de coração de jujuba...

Monday, January 08, 2007

Do meu verão

Trinta dias em Recife
(Medo de ser assaltada)
Bronzezinho nas pernas
Abusar dos micro shorts e micro saias
Sandálias (de salto, claro!): ventinho nos dedos do pé e calcanhares
Diet Shake na dispensa
Tênis
Corrida na pracinha ou na orla da praia
Não usar maquiagem durante o dia
Óculos escuros gigantescos para esconder as sardas
Boné para esconder as sardas
Protetor solar fator um milhão nas sardas
Reclamar das sardas
Pedir pra painho me levar no dermatologista para tirar as sardas
Ouvir ele dizer que isso é besteira
Ficar deprimida com minha cutis de cor européia
Utilizar eufemismos como o de cima para me consolar
Maquiagem de leve no rosto
Detonar um potão de sorvete de cajá
Corrida na pracinha ou na orla da praia
Não pisar na areia
Nem molhar os pés na água do mar
Sentar numa mesinha do calçadão
Comer peixe frito e tomar cerveja gelada perto da hora do pôr do sol
Corrida na pracinha ou na orla da praia
Ler García Márquez na rede
Ver uma pilha de dvds
Depois de ter enfrentado o calor de Santa Maria, não xingar mais o de Recife
Morrer de saudade...

Óculos escuros: R$ 45,00
Vestido florido: R$ 30,00
Skol gelada: R$ 2,50
Ver o pôr do sol na praia de Boa Viagem sem o meu amor: não tem graça...

Do painho

Muitos protestaram porque vinha escrevendo aqui os casos cômicos de mainha. Mas quem não coleciona as pérolas dos pais? São histórias dignas de comunidades no orkut: "meus pais falam Maque Donalds". Lá tem relatos em comum das mais diferentes pessoas do Brasil. "Eita, que onda! Achei que essas coisas só aconteciam aqui em casa", admirou-se um membro da comunidade. Será que quando a gente for "pais" vamos cometer as mesmas proezas?
Enfim, depois de falar muito de mainha, vai aqui uma de painho. Foi em Porto de Galinhas, uma conversa entre amigos testemunhada por minha irmã Quel. O assunto em pauta era "filhos". Painho filosofou:
- É engraçado essa coisa dos filhos, né? Da gente ver neles o nosso jeito... Thiago, por exemplo, tem essa coisa da responsabilidade. Pati puxou de mim essa coisa de filosofar sobre a vida, sobre o sentido da existência...
Quel, de soslaio, prestava atenção ansiosa pela sua vez...
- E Quel... Quel... Tem essa coisa, essa minha coisa... de gostar de farofa!
- Eita, painho! - protestou a bichinha*
-Mas num é minha filha? Você num gosta duma farofinha?
*expressão nordestina equivalente à "tadinha"

Wednesday, January 03, 2007

Do tempo

"Seu Hamil tinha me dito muitas vezes que o tempo vem lentamente do deserto com suas caravanas de camelos e que não tinha pressa, porque transportava a eternidade. Mas é sempre mais bonito quando se fala do que quando a gente vê no rosto de uma velha pessoa que é roubada todos os dias um pouco mais e, se querem minha opinião, o tempo é um bando de ladrões que é preciso procurar"
Trecho de "Toda vida pela frente", de Emile Ajar (Romain Gary)

Saturday, December 30, 2006

Da "homenage"

Do meu grande e sempre professor de literatura Octavio Da Matta, literatura de cordel:
"A minha querida Pati
é mestre no jornalismo
gosta de literatura
sabe também modernismo
e agora também dá aulas
com todo esse brilhantismo.
De Belô a Porto Alegre
sai espalhando cultura
entrevistando a gente,
fazendo literatura
e além de tudo a guria
é a maior formosura.
Minha querida Patrícia
rendo aqui essa homenage
pra essa pessoa que leva
carinho e amor na bagage
saúde, sorte e sucesso
pra você nessa viage"
Tudo isso feitinho de improvisu, bem pontual, numa prosa virtual...

Tuesday, December 26, 2006

Da essência

Pandora sempre foi uma caixinha de surpresas. Desde pequena surpreendia a famiília com sua sagacidade e jeito imprevisível. Começou a ler antes de aprender na escola. No carro com a mãe, o jornal em cima do colo, soletrou uma palavra da manchete principal: PE-CA-DO. A mãe quase bateu o carro de susto... e orgulho. Mal sabia ela que há muito Pandora costumava segredar para si as palavras dos outdoors da cidade. Tinha só cinco anos.
Cresceu ouvindo que o sexo feminino deveria prezar a independência porque os homens não prestam. Com 16 anos e corpo de mulher começaram os estragos. Aos 22 - estagiária de uma empresa de comércio exterior -, de tailler moderninho e salto agulha, pisoteava corações masculinos. O figurino era recheado com um corpinho de 1.75 m e medidas 90-60-90. Aos 25, já contratada pela empresa de comércio exterior, as medidas mudaram. Ela não. A primeira e a última ganharam alguns ml de silicone: 96-60-102. Números não mais arredondados, em compensação o corpo sim. Este também ganhou mais adeptos.
Cercada de "homens vazios", como ela mesma dizia, fazia do jogo da sedução seu melhor passatempo. E o sofrimento dos pobres que se achavam pretendentes, sua melhor recompensa. Cultivava nos outros os pecados da luxúria e da ira. Controlava a avareza, a gula e a preguiça. Despertava a inveja feminina. Emanava soberba.
Aos 29, funcionária pública bem sucedida e residindo nos arredores da Lagoa Rodrigo de Freitas, perdeu a graça de viver. Sentia falta de um bração constante que a envolvesse na hora de dormir. Alguém do sexo oposto para lhe fazer carinho no domingo à noite. Pra brindar um cálice de vinho tinto num dia feliz. Pra brigar pela fatia de bolo mais recheada. Queria um filho.
Conheceu Matoso, nordestino da porra, funcionário público em estágio probatório. Bonitão, morenão, machão, diferente dos tipos modernos e sensíveis que tinha se acostumado. Ficou louca. Ele cultivou nela a luxúria, a ira, a gula e a preguiça. Ela passou a despertar a compaixão feminina quando deixou a soberba embrulhada na gaveta da escrivaninha do Matoso. Aos 32 casou, teve 3 filhos homens e emendou a licença maternidade com o trabalho doméstico.
Pandora descobriu-se Amélia...

Wednesday, December 20, 2006

Do calor de Santa Maria


No verão que deixei Santa Maria, no Centro do Rio Grande do Sul, deixei pra trás só o calor. O resto veio comigo. Pelo menos em um aspecto fiquei feliz ao entrar no ônibus com ar condicionado. Olhava triste para o Igor da janela e, além de triste, ele, tadinho, me olhava com calor. O termômetro da rodoviária condenava quarenta graus sufocantes. Para se ter uma idéia, no tórrido dezembro dentro da república, quando os moradores saíam para a aula, eu juntava o ventilador de todo mundo, ao todo três, em cima de mim. Era só sair da rota dos ventinhos que o suadouro recomeçava. Sim, não é só de frio que vivem os gaúchos. E quando me sentia abafada, irritada, prestes a pular da janela e quase rouca de tanto gritar: "Senhor, que calor!", me vinha Manuel Bandeira na cabeça, refrescando (pelo menos) a memória: "Tu reclamava de barriga cheia do calor de Recife, muié".
Brisa

Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.
Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:Vamos viver de brisa, Anarina.
(Manuel Bandeira)

Tuesday, December 19, 2006

Do Rio Grande do Sul II

Até o domingo à noite é bom...

Monday, December 11, 2006

Da decepção

Muitos já sabem que Igor, meu namorado, é canhoto das idéias. Membro da União Nacional dos Estudantes e filiado ao Partido dos Trabalhadores, ele luta contra as injustiças sociais. Morro de orgulho! E Confesso que muito tenho aprendido com ele. A sociedade pra mim tem outra cara agora. Mas às vezes nossas palavras ainda trombam... Tipo assim:
- Ei, amor! Sabe o que meu pai ganhou de natal de dois clientes?
- O quê?
- Um palmtop e um laptop!
Ele que estava deitado com a cabeça no meu peito, esticou o pescoço e me encarou:
- Mas teu pai é médico de elite então???
- Anhan. O melhor médico tem que cobrar caro, né? - corujei
- E ele ainda salva a vida deles?!
Gargalhadas e beijinhos. Silêncio.
- Mas é com o dinheiro dessa elite que às vezes a gente faz umas farrinhas boas...
- Báh... - murmurou decepcionado

Thursday, November 23, 2006

Do aconchego

Se no céu não tiver cadeira de balanço... o que será de Tia Celina que foi para o céu...?*






*Adaptação do poema de Mário Quintana para Tia Élida.

Monday, November 13, 2006

Do lexotan de supermercado

Tem dia que só uma overdose de açucar me acalma.
Acho que a dose de ontem me manterá serena até o mês que vem:
2 torrones + 1 serenata de amor + 1 laka + 25 balinhas setebelo.

Não, não. Não foi ao longo do dia. Um atrás do outro.
Sim, sim. Esses ataques coincidem com minha tpm.
Mas bem que o peso na consciência podia não descer para os quadris, néam?

Por favor! Alguém sabe como evitar doces e ser feliz?

Monday, October 09, 2006

Da poesia sem verso

- Você se lembra quando nós dormimos na praia de Boracéia? E não tinha lua nem um pouco de luz para distinguir as coisas da terra. Tudo era um negro só. Nós estávamos perto do mato e sentíamos aquele cheiro de clorofila misturado com o nosso suor. Quando você deitava sobre mim, as estrelas em volta da sua cabeça brilhavam, distantes, e às vezes embaraçavam no teu cabelo e ficavam a um palmo dos meus olhos e depois fugiam rapidamente para o céu. Você se lembra...?
- Não lembro disso porque foram seus olhos que viram. Eu estava do outro lado de você e via e sentia outras coisas. Para mim, tudo exalava de você confundido com a terra, e eu nem te enxergava direito. Eu descobria teu corpo caminhando nele com os dedos. Naquela noite o prazer e o peso de estar no mundo foram maiores que sempre. E tudo tão simples: eu e tu, sós, deitados na areia perto do mato, trocando pedaços de carne em plena noite.

Friday, September 08, 2006

Da Guerra

"Os aviões abatidos
são cruzes caindo do céu"

Mario Quintana! Tinha que ser tu.