Wednesday, December 31, 2008

De 2008

Balanço sentimental de 2008.

Fim de namoro tipo casório logo no início do ano. Sozinha com muitas garrafas de champagnhe, perdida no Rio Grande, minhas amigas de férias em suas respectivas cidades. Mas quando voltaram, ao lado delas, baladeiras e solteiras, o resultado não podia ser outro senão badalação. Primeiro dia na night totaly alone, vestido decotado da Rebeca, ainda mais ousado no meu quadril tiquinho maior que o dela, rumamos para o Coyo, a nossa boate favorita no primeiro semestre.

Homem bonito não faltava. Mas estava desacostumada com a calhordice dos machos depois de 3 anos com um homem decente. Procurando o toquinho da Rebeca que estava chorando atrás do balcão (para desespero dos garçons) em busca da cartela que estava na minha bolsa, esbarrei com um cara lindo, camisa branca de botão e manga comprida, um pouco aberta, mas sem ser peão. Depois de uma conversa básica, ficamos. Mas ele acabou confessando que tinha namorada e começou a falar do quão ruim estava seu relacionamento. Mas de psicóloga passei a paciente. Comecei a chorar falando que tinha acabado de terminar meu namoro. E fui pra casa de cara borrada.

Depois, no mesmo Coyote, encontrei um cara bonito e bacana. Ele trabalhava lá e sempre saía pela porta dos fundos quando estavam no lugar mais de uma menina que ele costumava ficar. "Graças a Deus existe aquela porta da cozinha", confessou numa noite. Mas eu achava graça. Ele sabe. Éramos Tomas e Sabina. E eu voltava para casa de sorriso no rosto.
No meio tempo teve o jornalista legal que só conhecia de vista e com o qual conversei virtualmente. As palavras dele me fizeram chegar a seguinte conclusão: "Porra, acho que meu destino é casar com um jornalista. Eles tem a manha do que escrever". Os textinhos no preto e branco do msn ficavam coloridos a cada resposta dele. Contei os dias para encontrá-lo. Ele não mora mais em BH e aqui veio umas duas semanas depois das conversas virtuais. Escolhi um lugar romântico e me vesti que nem moça para casar. Vestidinho amarelo florido até o joelho. Bolsinha creme, tom sobre tom. Sandália alta, lógico. Louca para ouvir frases coloridas. Mas na mesa só pensava na música relicário: "O que está acontecendo? Milhões de frases sem nenhuma cor". Peraí. Milhões? Não. Ele não falava. E enquanto eu tentava puxar conversa, ele dormiu duas vezes sentado na mesa com velas e garrafas de vinho. Ow, calma aí. Não era para dormir. Resultado: voltei para casa frustrada. De novo.

O outro jornalista, "meu futuro marido" nas palavras da minha grande amiga enganada, também rendeu apelos a Nosso Senhor protetor dos homens idiotas. Depois do estilo namoradinho perfeito, se revelou. Num bar, um colega em comum com muita cachaça na cachola chegou em mim. O amigo do "meu futuro marido", nobremente, tomou as dores. Mas, para meu espanto, o pretendente colocou a culpa em mim. Será que minha calça saruel tava muita justa? E ainda tive que escutar meu primo gaiato cantar Vander Lee no violão o dia inteiro seguinte: "Morro de saudade, A CULPA É SUA". Sem contar que saí dirigindo transtornada e detonei o carro em duas pilastras que apareceram no meio da garagem. Voltei para casa com prejuízo financeiro de mil reais. E afetivo de um amigo e um pretendente a menos.

E, por último, o meu ex-amigo modelete com o qual nunca tive pretensões maiores. Desde a época da faculdade, eu dizia em relação a ele: "Lindo, mas nunca pegaria". Só que, um dia, depois de um enterro e vontade sem igual de curtir a vida, estava doida para sair. Percorri toda a minha agenda telefônica. Os amigos le(g)ais não estavam disponíveis. Contrariada, fui ver televisão. Efeito Borboleta. Me aparece Ashton Kushner na tela. Lembrei do modelete que com ele se parece. Estávamos combinando de encontrar desde que voltei para a capital mineira, mas sem segundas intenções. Pelo menos da minha parte. Entrei em contato com ele que ia para um lugar com um amigo. "Opa, pelo menos vai um amigo. Nada de esquema então", conclui. Mas para minha bela surpresa, o dito amigo não foi. E eu me amiguei com um cara legal que conheci lá no lugar. E ainda tive que ouvir o modelete falando para o meu ficante: "Você sabe que você não é 10% do que eu sou, né?". E, como se não bastasse, passou meu telefone para um carinha com bigodinho ralo que me pediu cigarro a noite inteira. Ah. E o cara legal que eu fiquei? Descobri que tem namorada. Qualé Nosso senhor protetor dos homens idiotas??? Voltei para casa desiludida.
Conclusão: em geral, os caras que rondaram por aí em 2008 são boy putões*, tem namorada ou as duas coisas.

Para 2009? Eu quero a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida. E um pouquinho de malandragem da minha parte também.

*Boy putão: espécie de homem cuja definição ainda está sendo elaborada pela minha pessoa. Mas já diagnostico o tipo empiricamente. O espécime será objeto de um texto próximo...

Wednesday, December 24, 2008

Do ridículo

O amor é o ridículo da vida
A gente procura nele uma pureza impossível
Uma pureza que está sempre se pondo
Indo embora

Sorte é se abandonar e perder essa falsa ideia de paraíso que nos persegue
Bonita e breve
Como borboletas que só duram 24 horas...

(Cazuza)

Sunday, December 07, 2008

Do poema de bar

Tirando a papelada de uma bolsa, depois de bom tempo sem usá-la, acho um guardanapo amassado, versos escritos em caneta azul, a parte branca do papel suja de base (não sei como). Foi num dia frio, convidativo para as duas garrafas de vinho que deram amnésia no dia seguinte:
Somos dois oceanos
não-pacíficos
imersos em vinho
sozinhos e juntos
somos muitos
somos nós
desatados
iluminados por
faróis
de carros
somos nós
(Por um amigo depois de duas garrafas de vinho e seis meses longe de mim)

Friday, November 28, 2008

Da vida

Em um texto do seu novo livro "Doidas e Santas", Martha Medeiros diz:
"Pessoas com vidas interessantes não têm fricotes. Investem em projetos sem garantias. Interessam-se por gente que é o oposto delas. Pedem demissão sem ter outro emprego em vista. Aceitam um convite para fazer o que nunca fizeram. Estão dispostas a mudar de cor preferida, de prato predileto. Começam do zero inúmeras vezes. Não se assustam com a passagem do tempo. Sobem no palco, tosam o cabelo, fazem loucuras por amor, compram passagens só de ida"
Comprei passagem só de ida numa loucura de amor por ele, oposto de mim. Foi o meu mais recente ato desencadeador de uma vida mais interessante. Dois anos depois, passagem só de ida de volta para casa. Sem o amor e a paixão que me moveram, mas com vários amigos (inclusive meu ex-amor que ainda é amor de outro jeito sereno) e um quase-título de mestre. Das outras coisas que Martha enumera, também ousei, passei e pensei que huuuuuuuuum, até que minha vida é interessante...
Ah, mas a passagem do tempo ainda me assusta...
mas deve ter cura.

Wednesday, November 05, 2008

Da inspiração



Eu e a escritora que fez esse blog nascer. Sim, eu e Martha Medeiros depois de uma palestra na Academia de Idéias em Belo Horizonte. Pra quem não sabe ou não leu o primeiro post, o nome deste blog é o título de uma das crônicas dela. Filosofia de pára-choque? Martha é filosofia de vida pura...

Saturday, October 18, 2008

Do incentivo

Minha irmã Quel está buscando vagas no mundo do funcionalismo público. O próximo concurso, difícil que só, disponibiliza apenas UMA vaga para a área dela. Quel falando disso com meu pai ao telefone:

- Tô estudando, né pai? Mas só tem uma vaga...
- E você precisa de quantas, minha filha?



Vai que é tuuuuuuuuuuuuuuuua, Queeeeeel!!!!!!!!!!!!!!

Sunday, October 05, 2008

Da mulher

"...As mulheres gostam que lhes digam palavras de amor. O ponto G está nos ouvidos. Inútil procurá-lo em outro lugar..."

(Isabel Allende)

Saturday, October 04, 2008

Do inferno

O inferno de Mario Prata, em O Purgatório, é feito de pessoas digitando ofícios, por 24 horas ininterruptas, em suas máquinas de escrever. As caras azuladas, cor papel-carbono, só alteram a expressão quando interpeladas pela voz de um vendedor sem noção: "Pamonhaaaaaaaaaaaaaaa de Piracicaaaaba!!!!"
Eu só mudaria uma coisa no inferno de Mario Prata. Em vez da voz irritante do vendedor de pamonhas, no meu, teria musiquinhas eleitorais. Qual o ser humano que merece ser acordado em pleno sábado de manhã, depois de uma noitada no boteco, com o jingle da Beth Pimenta? "'É a força da mulheeeeeeeer". Você vai ver a força da mulher depois do soco que eu der na sua cara, caralho! Que merda de estratégias de campanhas são essas que só deixam o eleitor irritado?
Não quero ver vocês no palanque, nem na TV, nem nos panfletos que sujam o chão da cidade, nem no som que entra na minha casa todo dia o dia inteiro, nem metamorfeseados em bonecos de Olinda, nem na puta que pariu. Mas vejo vocês no inferno, políticos de méra!

Wednesday, September 24, 2008

Do mundo acadêmico

Não é sobre, mas serve para:

Estou "esgotado de tensão nervosa para me manter contra os maus insignificantes a quem nunca fiz mal, excedido pelo trabalho que também me privou da mocidade"
João do Rio em 20 de novembramargo de 1918

Thursday, September 18, 2008

Dos canalhas

Mais uma das peças de bar. Oito mulheres numa mesa. Resumo da conversa entre todas:

Homem cafajeste é que nem cigarro: vicia, dá prazer, mas faz um mal do caraio.
Ah! E a maioria dos "homens-cigarro" são batizados com uma misturinha alucinógena...
E a mulher fica tonta, vendo coisa, enxergando um futuro que nem existe.

vai um aí?

Saturday, September 13, 2008

Do meu erro*

Eu me envergonhava
queria transferir o desmantelo
que não fosse meu,
de minha alçada;
queria dizer: esse "menino" não é meu,
é dele,
é dela,
de qualquer transeunte que passava.
Não teve jeito,
o filho-da-puta era a minha cara!

*Quase cópia de Elisa Lucinda

Sunday, September 07, 2008

Da conversa de terceiros

Pescando conversa de bar:

- Ah! Sei lá. Nem sei porque me envolvi. A gente mais se pegava do que trocava palavras..., disse a moça sobre o seu caso com um cara qualquer

- Ah! Sei lá. Nem sei porque me envolvi. A gente mais trocava palavras do que se pegava (aliás, nem nos pegamos ) , disse o moço sobre ele e a interlocutora


E quem irá dizer que existe razão...?

Wednesday, August 13, 2008

Do homem que queria ouvir “não” *

Foi Shakespeare quem disse pela primeira vez “The time is out of joint!”. Expressão intraduzível, mas que se assemelha ao nosso “O mundo está fora dos eixos!”. E o mundo está fora dos eixos! Pois ele queria ouvir um “não” dela. E talvez ele nunca consiga ouvir esse “não”, pois a gentileza brutal dela é incapaz desse ato generoso. Então ele recorre à ficção, como sempre recorreu para resolver os problemas insolúveis: desde sua timidez com poeminhas ordinários até sua frustração com monólogos entediantes. Então ele recorre à ficção para ouvir o “não”, mais precisamente ao diálogo:

– Você me deve uma conversa em particular.
– Desde quando?
– Desde aquela noite...
– O que você quer?
– Ouvir um “não”!
– Como assim?
– Sabemos que isto nunca dará certo. Mas o apaixonado super-interpreta os gestos, as atitudes, as palavras da amada. Então cada gesto seu, cada atitude sua, cada palavra sua, nisso tudo eu consigo enxergar uma esperança. Uma esperança fatalista, pois sabemos que isto nunca dará certo. Você ri de mim, então logo penso: “Ela gosta de mim!”. Você me ignora, então logo penso: “Ela gosta de mim!”. Você mexe um dedo, então logo penso: “Ela gosta de mim!”. Ah, vivo em função de você, interpretando você...
– ...
– Você não responde, então logo penso: “Ela gosta de mim!”. Mas você não gosta, você não gosta! São apenas ilusões da super-interpretação que afeta o apaixonado. Que faz ele continuar em velocidade máxima no caminho errado.
– Você quer ouvir um “não”, só isso?
– Sim, você precisa apenas dizer: “Olha, isto nunca dará certo. Me esquece!”. Talvez depois disso eu consiga levar minha vida em paz.
– Talvez?
– É, talvez. Nunca duvidei dos seus encantos...
– Você quer ouvir...
– ...um “não”, eu quero ouvir um “não”, apenas isso!
– Mas por que você quer ouvir um “não”? Por que você não quer ouvir um “sim”?
– Você me concederia um “sim”?
– ...
– Ah, o silêncio! O mesmo silêncio que eu ouço após as minhas brincadeiras constrangedoras e verdadeiras. Mas entre nós, quem cala não consente, certo?
(E aqui se encontra o limite perigoso deste jogo, pois se é uma ficção, se ele tem o controle de tudo, então por que não terminar em happy end? Não seria justo com ela, com sua personagem, obrigá-la a falar o que ele não sabe ou o que ele não quer saber. Mas também seria justo obrigá-la a falar o “não”? Justo não, mas talvez necessário?)
– ...
– Vamos terminar essa ladainha, por favor!
– Olha, isto nunca dará certo. Me esquece!

Ah, mas ele não esqueceu! Talvez por ser um “não” fictício. Pois a gentileza é brutal, a gentileza é brutal...

*Por um apaixonado...

Wednesday, August 06, 2008

De Tanathos

Navegando na internet em busca de mais conhecimento sobre Tanathos, que representa a Morte, tão mencionada no livro de Saramago que estou lendo (As intermitências da Morte), esbarrei no seguinte texto de humor refinado:

Tanathos

"Freud ensinou que os filhos taram os pais;
que nossos sonhos são manifestações, do subconsciente, de desejos reprimidos (e que desejos hein? Nooooossa!);
que o motor da vida é o sexo (Ôôôbaaaaa! Ainda bem que inventaram um super combustível para foguetes meia-vida, o Viagra Plus Premium 3D-XP-Putz, da Shellshot);
e recentemente, tomei conhecimento de um outro conceito freudiano, Tanathos, o instinto da morte que nos incita a auto-destruição!
Pô! Não acredito...!
Alguém devia ter dito a Freud que: sexo, sim; sofrimento, é o jeito; mas, auto-destruição, jamais. Afinal sexo e sofrimento são os combustíveis da vida que inspiraram o mais sábio e verdadeiro de todos os pensamentos filosóficos: 'Nóis sofre, mas nóis goza!'".

Autor original deste texto: Jotabe - www.recantodasletras.com.br/autores/jotabe

Tuesday, June 10, 2008

Do mundo de um certo Capitão Rodrigo

Diálogo entre o Pe. Lara e o Capitão Rodrigo. A história trata da formação do estado do Rio Grande do Sul e passa-se no século XIX.

-Se vosmecê fosse o criador do mundo, como é que fazia as coisas e as pessoas? - Perguntou o padre.
-Se eu fosse o dono do mundo, fazia algumas mudanças...
-Por exemplo... - pediu o padre
-Acabava com essa história de trabalhar...
-Sim, e depois?
-Fazia os filhos virem ao mundo de outro jeito. Eu vi o que a Bibiana sofreu. É medonho.
-E depois?
-Dividia essas grandes sesmarias de homens como o Cel. Amaral.
-Dividia? Como? Pra quê?
-Dividia e dava um pedaço pra cada peão, pra cada negro, pra cada índio.
-Não vá me dizer que ia libertar os escravos...
-E por que não? Acabava com a escravatura imediatamente.
-Vosmecê é das Arábias, capitão. Mas continue com o seu mundo... Que mais?
-Ah, já ia m'esquecendo. Pra principiar, fazia o mundo mais pequeno, pra gente poder atravessar todo ele a cavalo, sem levar muito tempo.
-E como é que vosmecê ia se arranjar, indo dum país pra outro sem conhecer outra língua senão a sua?
-Eu acabava com esse negócio de línguas diferentes...
-Quê mais?
-Acabava também com a velhice.
-Acabava?
-Quero dizer, ninguém envelhecia mais...
-Nem morria?
-Morrer... morria. Mas se morria era de desastre, nos duelos, nas guerras.
-Vosmecê não ia também acabar com as guerras?
-Bom... acabar de todo, não acabava. Porque guerra é divertimento de homem. Sem uma guerrinha de vez em quando fica tudo muito enjoado.
-Ia ser um mundo bem esquisito...
-Mas não mais esquisito que esse nosso, padre.
- Se Deus fez o mundo assim foi porque achou que era o direito.
-Mas hai muita coisa torta aí.
-Que há, há...
-Outra coisa, padre. No meu mundo não ia haver casamento. Um homem podia ter quantas mulheres quisesse. Dez, quinze, vinte, mil...
-E se dois homens desejassem a mesma mulher?
-Pra que é que serve a espada? Pra que é que serve a adaga? E a pistola?
-Noutras palavras, capitão, seu desejo mesmo é andar correndo mundo, sem pouso certo, sem obrigação marcada, agarrando aqui e e ali uma mulher como quem apanha fruta em árvore de beira de estrada... De vez em quando uma partidinha de truco ou de solo, um joguinho de osso, umas carreiras, e para variar, uma peleia... Não é isso?
-Mais ou menos...

In: O Continente, Érico Veríssimo.

Wednesday, June 04, 2008

Do cheiro de Santa Maria

No Ponto do Cinema onde os mestrandos das Letras batem ponto quase todo final de tarde, o sonzinho da música ao vivo dedilhou "Sampa". Logo, eu e Denize, outra forasteira, elaboramos, assim, na hora, outra letra em cima da de Caetano:
"Alguma coisa acontece no meu coração que só quando eu cruzo a Floriano rumo ao calçadão". Risadas e risadas, relembramos o dia em que ela, Denize, voltou da casa dos pais no Paraná. Um dia de chuva, frio, céu cinza, nos encontramos na Alberto Pasqualine, também conhecida como 24hrs, para almoçar no Português. Ela chegou linda, com seu casaco nem 3/4 nem 7/8. Mas os olhos verdes sentiam o peso da nuvem negra que pendia o seu semblante. Na saída, olhando para o rosto dela, fisionomia nauseada, perguntei:
- O que houve, guria?
- O cheiro dessa cidade! Um cheiro sólido! Que me sufoca!, poetizou saindo do restaurante com os pés firmes em seu scarpin preto de bolinhas brancas, pisoteando a 24hrs.
É, Caetano... Narciso acha feio o que não é espelho.

Friday, May 30, 2008

Da literatura na ponta da língua

“Senti falta daquele abraço que eu cabia certinho... que eu nem sobrava nem faltava”

Resposta de uma amiga depois de eu perguntar o que ela sentiu quando reecontrou um caso de amor antigo. Saiu assim... poesia espontânea.

Monday, May 19, 2008

Do bouquet (in)desejado



Casamento do ano! A primeira neta de Aely (família Castro) e de Celeste (família Maia de Sousa) vai casar em Salvador. Parentada de todo o Brasil reunida na terra de Jorge Amado. Chego no dia mesmo do casamento. Mauro e Tati me pegam no aeroporto e me deixam no hotel onde painho e meus irmãos me esperam. Sim, tivemos que ficar num hotel. As casas das gêmeas Tia Ângela e Tia Celeste já não comportavam tantos membros do clã Maia de Sousa e Castro. No saguão do hotel, encontro meu pai. Sorriso largo na boca e brilho nos olhos (nunca vi tão azuis como nesse dia), que diziam: "Não preciso de mais nada! Meus três filhos estão aqui'!
No pátio da igreja, toda a família. Risos, abraços, espanto! "Jesus, como assim Marcelinho?", perguntavam-se as primas da minha geração ao reencontrar o "priminho" que cresceu. Do outro lado, uma vozinha meiga: "Oxente, o padre... que desperdício!", lamentava Helena ao ver aquele francês de olhos azuis, praticamente um sósia do ator que faz o homem aranha, mas na versão adepta ao celibato. Enquanto isso, nós da faixa dos 25, que fingíamos nao ouvir as cobranças das tias "E vocês??? Quando vão casar???", resolvemos todas achar um lugar na igreja. "Eu só vou casar depois de 'Julho'. 'Julinho' é o filhinho do meu vizinho que tem 2 anos", brincavam. Eu, sempre meio desconfiada com as cerimônias religiosas e o 'até que a morte nos separe' que elas impõem , me vi chorando enquanto a imponente porta da igreja se abria, devagarinho, acompanhando as notas da marcha nupcial. Quando vi Marina, a noiva, de uma beleza que até doeu, virei pra Quel com cara de choro-alegre: "Aiiiiin! Quero casar na igreja!".
Depois de muitos soluços e fungadinhas de choro e emoção, seguimos, na confusão familiar típica ("O carro de Fulano tá cheio? E Sicrano vai onde? Tem carro pra Beltrano?"), para a impecável recepção. Em meio a camarões e prós secos da melhor qualidade, a alegria nem cabia. Até chegar a hora de jogar o bouquet! "Vai ser um pau da porra! Esse tanto de prima solteira", diziam. Coincidência ou sinal dos novos tempos?
- Bora, Tati!!! Mari vai jogar o Bouquet! - chamei minha inseparável prima
- Eu não vou não! Já peguei essa porra duas vezes e me deu um azar do carai! - respondeu ela no seu linguajar típico.
- Bora, poia! Só pra tirar onda...
- Sá p... ! Bora logo então.

Começa o vuco vuco. Estou lá, de mãos para o alto, bem na direção do bouquet, a exemplo das outras. Menos Tati, postada lá atrás, com um pró seco na mão direita e cara de desdém. Uma diva! "Joga, joga", gritavam. Mari lança o bouquet. Quel, ao meu lado, joga sujo e tira eu e Gabi da "competição" com seu indicador implacável nos nossas axilas! Baixei os braços caindo na gargalhada a tempo de ver o bouquet cair como uma luva, deslizando suavemente no colo de Tati que o agarrou incrédula:

-Nããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããõooooooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Essa porraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Mas, no final, foi só mais um motivo para rirmos em família. Que bom que os momentos felizes ficam guardados...
Aqui cabe revisitar um texto que postei em 2006, da Martha Medeiros: http://paticastro.blogspot.com/2006/08/do-casamento.html

Sunday, May 11, 2008

Do hippie

Voltando do almoço do Dia das Mães com minhas amigas cujas mães também estão em outro estado, deu uma saudadeeee da minha mainha. Imaginei o dia de hoje lá em casa. Café quentinho passado por Quel, bem de manhãzinha. Pão de queijo. Bolo de nozes. Pão fresquinho. Pimpinho ao pé da mesa. Mesa posta apontada para o céu da Savassi. Sorriso de mãe. Pensando nisso, caminhando no calçadão de Santa Maria, olhinhos baixos com o peso de tanta nostalgia, escuto um grito:
- Por favor! Me tirem do Rio Grande!, berrou um hippie sentado em posição de ioga com vários brincos artesanais em volta.
- Quem leu meu pensamento? - pensei olhando em torno.
Fui até ele...
- Má que houve, homi?
-Ah, esse lugar frio! Acho que o frio deixa o coração das pessoas mais frio...
Agradecido por eu ter ido puxar papo, me fez um brinco lindo: um 'bonequin' felizinho saltitando um reggae... e, a partir de agora, dançando na minha orelha direita.
Em casa ele parou de dançar. É que apertei forte o brinquinho, telefone bem junto ao ouvido, escutando com ternura cada palavra sorridente da minha mainha.

Friday, April 18, 2008

Da insustentável leveza do ser

"O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira. (...) Tomás pensava: deitar com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não somente diferentes mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher) [...] O sono compartilhado era o corpo de delito do amor"

In: Kundera, A insustentável leveza do ser

Thursday, April 10, 2008

Da poesia televisionada

Estava dormindo. No sonho, uma voz masculina declamava uma poesia com uma música ao fundo. Abri os olhos, ainda semicerrados, reconheci Oswaldo Montenegro na tela da TV, violão e microfone, voz doce e olhos fechados, dizendo: "E que a minha loucura seja perdoada. Porque metade de mim é amor e a outra metade também". Levantei repetindo a frase na cabeça. Google: "E que a minha loucura seja perdoada. Porque metade de mim é amor e a outra metade também". Eis o poema na íntegra:
"Que a força do medo que eu tenho, não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe, seja linda, ainda que triste...
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade .
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, e nem repetidas com fervor, apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo, se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto, um doce sorriso, que me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia, e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada.Porque metade de mim é amor, e a outra metade... também..."
Depois de conhecer a música da bailarina na voz dele, Oswaldo Montenegro me encantou mais uma vez, dez anos depois...

Friday, March 21, 2008

Tuesday, March 11, 2008

Do ontem agora

[Esperanças irreais]
[Expectativas desleais]
[Estruturas glaciais]
[Experiências difíceis especiais]
[Despedida (im)prevista]
.
.
.
[Hoje, inteira, uma mulher me habita]

Tuesday, February 26, 2008

Do Renato

Risadas, comentários de pé de página, confidências (para ele e mais ninguém!), amizade incondicional sem segundas intenções (rá!), cerveja com chuva e relâmpago, bolinhas de champagne. Ora bolhas, que saudade!
Com "tu", amore, la vie en rose!

Monday, February 18, 2008

Da amizade dos nossos tempos

Depois de seis meses, eu e Rena nos reencontramos em BH. Papo vai, papo vem, com tanta fluidez, que virei para ele com ternura:

- Quando a gente se revê, nem parece que ficamos tanto tempo longe, né?
- Pois é. Acho que amizade verdadeira não fica no status "offline". Fica, no máximo, "em horário de almoço"...
É nisso que eu acredito. Concordo plenamente, Rena.

Monday, January 28, 2008

Da cidade de São Miguel do Gostoso-RN

Mas quem vai para lá também é para ficar fora de área e temporariamente desligado...

Wednesday, January 23, 2008

Do amor (ou da paixão?)

"O caráter do verdadeiro amor oferece constantes similitudes com a infância: tem dela a irreflexão, a imprudência, a dissipação, o riso e as lágrimas"
Balzac, in: As Ilusões Perdidas

Wednesday, January 16, 2008

Da tentação

As festas e reuniões familiares na casa de tio Lula são conhecidas pela fartura de guloseimas feitas, a maioria, por ele próprio. Ele sai da cozinha com aquele rostinho bonachão trazendo até a varanda do seu belo apê- onde a família costuma se concentrar - nada menos do que churrasquinho, rosca salgada (depois embrulhadas em papel alumínio para nós), bobó de camarão, pãozinho de alho, picanha. Tudo, assim, de uma vez só. Fora a infinidade de chocolates, biscoitos e tortas que ele compra, dispostos numa fileira capaz de aniquilar qualquer dieta. Assim, a casa de Tio Lula é sinônimo de deleite ou desespero. Tudo depende da sua relação com o ponteiro da balança. É aí que entra a nossa personagem de hoje, Quel, minha irmã. Recém-chegada em Recife, seguiu para a casa do nosso querido e cozinheiro tio. "Putz, não posso exagerar tanto. Vou comer um pouco, o normal, mas depois escovos os dentes para não comer mais nada", pensou a esbelta Quel não sei porquê preocupada com a balança. No corpitcho dela, eu teria optado pelo deleite sem culpa. Colocou as poderosas escova e pasta de dentes na bolsa, "objetos-escudo", anti-celulites e gordurinhas póstumas. Resultado: ela escovou os dentes 11 vezes.
Quem é da nossa família entende, Quequel.

Friday, January 04, 2008

Da(quela) Saudade

Quando ela vem assim... rasgando... tudo fica tão sem sentido. O aperto no peito, sintoma de angústia, e só uma vontade de gritar, pedir um sinal que seja, além da matéria. Não posso mais ouvir teu riso, teus conselhos, nem a esperteza das réplicas afiadas como um estilete. Não posso mais ver as miçangas deslizando no fio do colar, a mão alisando o suor da testa e, em seguida, sobre a boca... nem - nunca mais - você deitada ao meu lado, no chão do quarto de TV, naquela hora que o soninho vem à tarde. Abrir os olhos e te ver, de conchinha, foi um suspiro de alívio depois de um sonho ruim... Só resta imaginar como você, hoje, agiria, o que diria, a expressão que seria... mas dói tanto sem nada a se agarrar, pegar, tocar. Só lembrar, lembrar tira o sono e o chão. Tão bom seria saber que você pode ainda ver tudo que de feliz está acontecendo. Um sinal ao menos podia... tipo latinhas de cerveja reluzindo nas nuvens e chuvinha de restinhos de cigarro...
Que falta você me faz.