Thursday, December 17, 2009

Dos futuros amantes

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber...


(Chico Buarque, sempre a calhar)

a música: Futuros amantes: http://www.youtube.com/watch?v=59P64-TtOKY



Friday, December 11, 2009

"A gente se apertou um contra o outro. A gente queria ficar apertado assim porque nos completávamos desse jeito, o corpo de um sendo a metade perdida do corpo do outro. Tão simples. A gente se afastou um pouco, só para ver melhor como eram bonitos nossos corpos nus (...), iluminados pela fosforescência das ondas do mar. Plâncton, ele disse, é um bicho que brilha quando faz amor.
E brilhamos."
.
.
.
(Caio Fernando Abreu - Morangos Mofados)Justificar

Thursday, November 19, 2009

Do ponto final.

Ela teve uma notícia que não esperava (pelo menos nem tão cedo). Logo no dia do seu aniversário, quando coisas ruins costumam acontecer. A maldição de 2008 foi essa. Não que ela ainda pensasse ou tivesse esperanças com ele. Mas não sonhava que ele seria tão fraco a ponto de fazer o que fez. Embora todo mundo a tivesse alertado. Primeiro foi o choque. O susto. E um sonoro: "Não acredito". Nos dois dias seguintes, outras lembranças surgiram e ela foi se sentindo usada e enganada. O peito apertou de um jeito, mas não a ponto de fazê-la chorar para parar de doer. De repente, viu uma menina maltrapilha na rua e explodiu num choro convulsivo. Porque como diz uma amiga dela: "sem lesão não há pranto". Mesmo que a lesão não tenha a ver com o contexto. O choro desceu soluçado e os óculos escuros, ela deixara em casa. E nem insufilm tinha o carro para que ela pudesse desabar descontrolavalmente sem os olhares dos carros vizinhos naquele sinal que jamais abria. Era um choro de redenção, de alívio, libertador e, ao mesmo tempo, de raiva por ouvir (ouvir não, descobrir) e viver (pelo menos depois do fim e de já desapegada dele), o que todo mundo dizia que aconteceria... os tais avisos daquela época em que ela era cega de paixão e acreditava ser a exceção da regra dos casos assim. Isso porque pautava-se não na vida, nem nas palavras dos experientes amigos e da mãe, mas nas palavras dele.
Ela olhou no retrovisor e viu que seu rosto já era indisfarçável. Olhou para o lado meio embaraçada e viu que um moço fazia sinal para que ela abaixasse o vidro. Ela abaixou meio de cabeça baixa para ele não se assustar tanto com seu rosto borrado de rimel. E ele gentilmente perguntou:

- Está tudo bem?
- Vai passar... - ela disse finalmente acreditando

A trilha sonora do caso:

Sunday, November 15, 2009

Do desabafo

Reflexões de uma amiga querida que está pensando num fim próximo:

Ainda olho pra ela com meus olhos de loucura. Eu olho pra ela e vejo o "meu pra sempre".
Só sei que se a gente se separar eu tenho que encontrar uma forma de não procurar por ela em todas as outras pessoas. É isso que eu sei... porque ela é tudo que sei amar, tudo que sei admirar. Eu queria ser como ela: bonita, forte decidida. Então ela é meu caminho. E agora como faço se meus pés só decoraram os caminhos dela? Ninguém me ensinou a desdecorar uma história.

Esse desabafo foi digitado: poesia via msn. Foi das coisas mais lindas que já ouvi. Ela fala de crise, de possível separação..., mas, paradoxalmente, também quero um amor assim.
Força, amiga. É incoerente mesmo desamar amando. Mas um dia vem, todo dia, atrás do outro.

Wednesday, November 11, 2009




Recebi, neste fim de semana, a visita de Ana e Carol, duas amigas de Recife dos tempos de colégio. O presente se encheu de nostalgia. As lembranças da cidade onde eu nasci vieram boas, ganhando mais cor. ;)

Mal elas desceram no aeroporto de BH, já fomos direto para minha casa nos arrumar para a balada, pois o tempo de estada das meninas era curto. Depois de troca-trocas de brincos, roupas, sapatos, maquiagens e fofocas, chegamos no escolhido lugar. Meia hora foi suficiente para que eu comentasse tristemente:

- Minha gente, tô me sentindo um cocô nessa boate... O povo não olha pra gente! O nariz é tão em pé que o olho passa por cima da nossa cabeça. É bem diferente dos lugares mais "alterna" de BH...

Alguns minutos depois, vejo Ana conversando com um menino. Cheguei saltitante:

-Aê, Ana!!!! Um cara aqui falou contigo!!!! Tá com tudo héin?
- Não pow, é que ele derrubou minha bebida e tava pedindo desculpas...

Bom meninas, ao menos eles são educados. Da próxima, a gente dá uma passadinha antes no Alambique*. Depois de um sonoro "Ê lá em casa...", a gente vai se achando (mais!) para a dita boate onde todos são invisíveis até o álcool subir...


*Alambique: Boate de BH onde te chamam de musa do Brasileirão. Ideal para depois dum pé na bunda.

Saturday, October 31, 2009




Estou lendo o livro "A filha do canibal", da escritora espanhola Rosa Montero. O livro começa nos transportando para um cenário inusitado: a porta vai-e-vem do mictório do aeroporto, por onde Ramón, marido da protagonista Lucía, entra... e não volta. De lá, ele simplesmente evapora, desaparece (alguém já teve vontade de escapar assim?). Algumas páginas adiante, refletindo sobre a ausência do marido, Lucía descreve com maestria a vida de 99,99% dos casais da vida real:

"Mas nessa noite, na cama, aturdida pela incompreensibilidade das coisas, me surpreendi ao sentir uma dor que não experimentava desde muito antes: a dor da ausência de Ramón. Afinal, fazia dez anos que vivíamos juntos, dormíamos juntos, suportávamos nossos roncos e nossas tosses, os calores de agosto, os pés congelados no inverno. Eu não o amava, ele até me irritava, havia muito tempo que eu analisava a possibilidade de me separar, mas ele era o único a me esperar quando eu voltava de viagem e eu era a única a saber que ele friccionava minoxidil na careca todas as manhãs. A cotidianidade tem esses laços, a intimidade do ar que se respira a dois, do suor que se mistura, a ternura animal do irremediável. E naquela noite, insone e desassossegada na cama vazia, compreendi que precisava procurá-lo e encontrá-lo, que não podia descansar até saber o que lhe havia acontecido. Ramón era responsabilidade minha, não por seu meu homem, mas meu costume"

Pro trecho, cabe até trilha sonora. Chico Buarque: "Vão viver sob o mesmo teto, até que a morte os una. Até que a morte os una..."

A todos, desejo o 0,01%!


Wednesday, October 28, 2009

Da filosofia de folhetim


Eu já assistia...

Sim, eu vejo novela. Principalmente as de Manoel Carlos. Não perco uma! Embora "Viver a Vida" esteja far away da realidade, algumas cenas fogem à regra. Ontem, Alinne Morais na pele de Luciana, discutiu pela milésima vez com a madrasta da mesma idade, Helena. Julgando-se mais experiente, a personagem de Taís Araújo sabiamente falou:

- Não atropela a vida, Luciana. Deixa ela fluir...

[Plim!, ativou-se uma luzinha lá dentro]

Luciana resmungou. Mas, mesmo assim, valeu, Helena... peguei o conselho pra mim.

Monday, October 26, 2009





"Na vida e no amor, não temos garantias.Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear.E nem todo sexo bom é para descartar... ou se apaixonar... ou se culpar...." (MM)


Que medo é esse de se ver só com a própria companhia?

p.s-Achei o texto na íntegra neste blog (o crédito está para Arnaldo Jabor, mas creio ser de Martha Medeiros): http://ppaiotti.nireblog.com/post/2008/07/23/sempre-acho-que-namoro-casamento-romance-tem-comeco-meio-e-fim-como-tudo-na-vida-detesto-quando-escuto-aquela-conversa

Tuesday, October 20, 2009

Da Vida*


Só vive quem passa e fica, fica e passa, pelos caminhos desse chão


Em um texto do seu novo livro "Doidas e Santas", Martha Medeiros diz:
"Pessoas com vidas interessantes não têm fricotes. Investem em projetos sem garantias. Interessam-se por gente que é o oposto delas. Pedem demissão sem ter outro emprego em vista. Aceitam um convite para fazer o que nunca fizeram. Estão dispostas a mudar de cor preferida, de prato predileto. Começam do zero inúmeras vezes. Não se assustam com a passagem do tempo. Sobem no palco, tosam o cabelo, fazem loucuras por amor, compram passagens só de ida"

Comprei passagem só de ida numa loucura de amor por ele, oposto de mim. Foi o meu mais recente ato desencadeador de uma vida mais interessante. Dois anos depois, passagem só de ida de volta para casa. Sem o amor e a paixão que me moveram, mas com vários amigos (inclusive meu ex-amor que ainda é amor de outro jeito sereno) e um título de mestre. Das outras coisas que Martha enumera, também ousei, passei e pensei que huuuuuuuuum...
até que minha vida é interessante...

*Repostagem!!! Falta inspiração, mas nada que uma voltinha pela cidade não resolva.

Sunday, October 11, 2009

Da conquista




Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sozinha, só volte quando eu chamar e não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. Então fique comigo quando eu chorar, combinado? Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos e um joelho esfolado, você tem que se esfolar às vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica, mas cozinhe. Aprecie os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate, mas de buteco. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.


Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. Goste de futebol e discuta comigo se torcemos para times diferentes. Não invente de querer muitos filhos, me carregar para a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ... Deixe eu dirigir o seu carro. Quero ver você nervoso, inquieto, (não!) olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Chore e eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... me esqueça... ou experimente me amar!

(Texto de Martha Medeiros levemente alterado para atender às minhas preferências)

Friday, October 02, 2009

Saudade do futuro
que não veio
nem passou


d e
s

man
c
h
ou

Saturday, September 05, 2009

Da cidade de São Miguel do Gostoso-RN



Mas quem vai pra lá também é pra ficar fora de área e temporariamente desligado.
Vontade de ficar assim...

Saturday, August 08, 2009

Do selinho




Esse mimo eu ganhei da Flavi (http://bonitadocepimenta.blogspot.com/)

Tarefas:

Listar 5 desejos (todos materiais)

-Um apartamento colorido e moderninho

- Um closet gigante preenchido com muitas roupas devidamente penduradas

- Estantes, muitas estantes, com livros a perder de vista, indo quase janela afora

- Um notebook pequenino e cor de rosa

- ultimamente também tenho pensado em um par de próteses (hahahaha)

Cinco características minhas:

- apaixonável

-apaixonante

-crítica

-ambiciosa

- sui generis

P.S- hoje estou me achando!

Blogs que indico:

http://grazimotta.blogspot.com

Thursday, August 06, 2009

Do soninho



Ele tem o sono leve. Acordou com o flap-flap das asinhas.

-Linda, fecha a janela.

Eram pombinhos que (também) voavam lá fora.

Friday, July 24, 2009

Do tempo



eu remoçando...

acho que a vida anda passando a mão em mim
a vida anda passando a mão em mim
acho que a vida anda passando
a vida anda passando
acho que a vida anda
a vida anda em mim
acho que há vida em mim
a vida em mim anda passando
acho que a vida anda passando a mão em mim


e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás

um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos

acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando

Do livro Pensamento do Chão, de Viviane Mosé.

Tuesday, July 21, 2009




"O drama de uma vida sempre pode ser explicado pela metáfora do peso. Dizemos que temos um fardo nos ombros. Carregamos esse fardo, que suportamos ou não, lutamos com ele, perdemos ou ganhamos. O que precisamente aconteceu com Sabina? Nada. Deixara um homem porque quisera deixá-lo. Ele a perseguira depois disso? Queria se vingar? Não. Seu drama não era o drama do peso, mas da leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser." (Milan Kundera)

Monday, July 06, 2009

Do fim do cigarro




Derradeira foto com cigarro na mão. Com choppinho... ainda de vez em quando.




Estou há 8 dias sem fumar. No msn, meu nick é o seguinte PaTs - 8 dias sem fumar. E assim, a cada dia, muito feliz, aumento em um dia os longos dias sem fumar. Recebi parabéns de todo mundo da minha lista msênica. Até que, claro, sou surpreendida pelo Alexandre:

Alexandre diz:
Sabe que meu amor por vc acabou, né?

PaTs- diz:
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
pq agora uso adesivos de nicotina?

Alexandre diz:
Claro. Agora vc virou uma pessoa normal.

PaTs- diz:
Patricia-maysa encaretou

Alexandre diz:
Qual a graça de vc não fumar mais???

PaTs- diz:
nem bebendo direito eu tô mais. bom, minha pele está maravilhosa. nao acordo mais com pigarro. tenho folego p malhar...

Alexandre diz:
Sério??? Parou de beber tb?

PaTs- diz:
por enqto parei... pq se eu beber, dá vontade de fumar...

Alexandre diz:
Bom, ok, agora acabou de vez.

PaTs- diz:
daqui a algumas semanas acho q consigo beber

Alexandre diz:
Da série: como destruir um encanto em 8 dias.

Alexandre diz:
Não, falando sério. Vc vai mesmo parar de fumar? De verdade?

PaTs- diz:
uai... eu espero q sim. tô gastando 40 reais em cada caixinha de nicotina

Alexandre diz:
Nossa, que triste...

PaTs- diz:
e to me sentindo super bem. aquela fedentina de cigarro tava me estressando. Nas roupas, no cabelo...perdi a graça de fumar

Alexandre diz:
Ok, ok, eu sei que faz bem à saúde e tal. Mas, sério, eu gostava tão mais quando vc fumavaaa.... Hahahahha!Era genial. Malhava e fumava. Bebia e fumava. Tinha um charme não usual.
Bom, quando vc voltar a beber, continua convidada a vir para cá. Mas já vou avisando que eu vou sentar na mesa do bar e fumar um cigarro atrás do outro.

PaTs- diz:
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
valeu pelo incentivo. até lá nao vou sentir mais vontade de fumar. e , ops... acho q vou adiar minha ida a brasilia...nao to preparada ainda para sentar numa mesa de fumantes

Alexandre - diz:
Sorry, pelo NÃO incentivo. Mas eu sou nouvelle vague total. E nos filmes da nouvelle vague, todas as meninas lindinhas e inteligentes fumam elegantemente... Eu sei que parece absurdo, mas eu estou verdadeiramente triste. Assim: feliz por vc. Triste por mim. É como se vc tivesse conseguido um emprego muito bom na Nova Zelândia e fosse morar lá para sempre.

Alexandre. Sempre genial. Desculpa te decepcionar, caro amigo. Mas não vou ceder ao vício não...

Wednesday, July 01, 2009

Da embriaguez como método

Mais uma da série "Peças de bar".

Diálogo que presenciei num buteco.

- Você tem um dos sorrisos mais lindos que eu conheço...
-Você diz coisas lindas quando bebe.
-Para mim a vida começa sempre depois da última dose.
-Bêbado (...) - ela disse mais baixo
- o quê?
-(...) Poeta - ela continuou com um sorriso.

Wednesday, June 24, 2009

Da literatura no bar


Eu e Martha Medeiros em BH!
.
.

É sempre a mesma coisa. Quando reencontro meus amigos e professores do mestrado no buteco, a conversa continua a mesma da sala de aula. Estávamos numa mesa de bar comemorando a defesa da minha dissertação de mestrado em estudos literários. Vindas do meu lado esquerdo, eu pescava conversas sobre assuntos gerais. Do lado direito, só ouvia literatura para cá, literatura para lá. Discussões literárias, autores literários, teóricos da literatura! O ruidinho literário da direita era emitido pelo recém mestre Pablo e o Prof. André que não cansam de "literatetear". Virei-me interrompendo:

-Gente, chega né? Vamos falar de amenidades, por favor.
- Tá bom. Amenidades.

[Silêncio-sepulcral-constrangedor do lado direito da mesa]

Bom, me conformei que pedi demais e deixei os dois para lá. Fui fofocar com minha amiga do lado esquerdo (do peito) que não via há seis meses. Pausa na fofoca (...) escuto o nome "Martha Medeiros" e o prof. André descendo a lenha. Para quem não sabe, sou fã da escritora gaúcha Martha Medeiros e o nome do meu blog é o mesmo de uma das crônicas dela. Voltei-me pro lado direito e entrei na discussão. Eu defendia a Martha, André replicava. No meio do furdunço, minha amiga da esquerda me interrompeu com um novo babado. Encerrados os comentários em torno do bafão, estiquei logo o ouvido esquerdo para o lado direito da mesa. A conversa já estava em Duras e mais uma penca de escritores franceses. Apelei:

-Ah, não! Literatura de novo???
- Não, Patrícia. Antes estávamos falando de Martha Medeiros. Agora é que começamos a falar de LI-TE-RA-TU-RA! - respondeu, triunfante, o professor André

Tive que engolir seco o vinho que já era seco. Não veio resposta. Tá bom, vai... a tirada dele foi genial.
Mas André, você me paga! Já estou elaborando uma piadinha aqui sobre o Camus.

Wednesday, June 10, 2009

Da dor que dói mais



Escrevi num post abaixo que a dor que dói mais é a da saudade, a dor de nunca mais saber de quem se ama... Dor emocional que também pode se manifestar no corpo. Mas ontem presenciei o oposto: uma dor física que irradiou na alma.

Acordei cedinho com minha irmã que gemia baixinho. Era cólica renal, decorrente de cálculo nos rins. Aquela dor que dizem ser pior que a de parto. Corri com ela para o hospital. Quel repetia "por favor, chega logo! Meu Deus, não tem posição que ajude a melhorar essa dor". E se revirava de um lado para o outro no táxi. Chegamos no Lifecenter, hospital conveniado de Belo Horizonte, e enquanto ela, pálida, se estirou no chão pedindo por favor para ser medicada, a recepcionista falava que, antes de encaminhá-la para a enfermaria, eu teria que preencher um cadastro.

-Não "sente" a dor dela? Deixa eu ir com ela até a enfermaria? Volto aqui e preencho depois - pedi
-Tem que preencher a ficha primeiro. Posso chamar uma enfermeira para ir com ela.
-Então chama, ué!

A enfermeira não aparecia. E minha irmã continuava no chão. Até que, sem querer, uma mocinha de branco apareceu. Gritei: "Enfermeira, ajuda a minha irmã aqui". E foram-se as duas escada abaixo. Eu continuei no balcão com a caneta na mão preenchendo a merda da ficha, a cabeça pensando mil palavrões e o coração doendo. Continuei:

- É um absurdo como vocês lidam com uma pessoa que visivelmente está sentindo tanta dor.
- É o protocolo... - falou a recepcionista virando as costas.

Dez minutos depois, cheguei na enfermaria e minha irmã ainda gemia de dor. Não tinha sido medicada ainda! Até que o médico apareceu. Apertou daqui, apertou dali e foi fazer a prescrição do analgésico: o nosso familiar buscopan. Ele ainda escrevia cinco minutos depois. Até que minha irmã perguntou: "Cadê, cadê o remédio?"

-Dr. não dá para agilizar o medicamento? Já tem 30 minutos que estamos aqui... - eu disse
- Estou preenchendo - disse-me olhando com a sobrancelha levantada e apontando para o papel.

Depois de feita, a enfermeira levou a receita até a farmácia, o que demorou mais de dez minutos. Depois ela preparou a seringa. Mais cinco minutos. Ou seja, desde que chegamos no hospital foram mais de 45 minutos para que fosse finalmente injetado buscopan na veia da minha irmã. Imaginem o que são 45 minutos para uma pessoa com cólica renal...! Menos de um minuto depois da droga ser injetada no sangue, ela não sentia mais dor.

E eu sentia a indeferença no rosto, no andar, na fala de cada um que nos rodeava. A dor, para eles, é sim algo corriqueiro. Só que acaba parecendo mercadoria barata mal paga pelos convênios. Voltei para casa meio anestesiada. Sozinha no quarto, comecei a pensar em tudo que ocorreu naquela manhã. Espontaneamente, explodi num choro convulsivo. Soluçava de raiva deles, de pena da minha irmã, de desilusão... Mais uma vez lidei com gente que não sabe acolher. E percebi que a dor que dói mais é a dor decorrente da banalização da dor que dói nos outros. Eu vi, de perto, a desumanização da saúde.

IMPORTANTE:

P.S- Esse texto é baseado no que eu presenciei. Não estou generalizando em relação à classe médica. Como a sociedade em geral, entre os médicos, também têm de tudo... Entendo como os convênios banalizam o trabalho desses profissionais ao pagarem uma quantia que não vale o trabalho que executam. Como diz um amigo meu médico: "Tem gente que gasta 300 reais no salão e ainda reclama do quanto paga numa consulta. Você tem noção do quanto a gente trabalha? E da importância do nosso trabalho?". Tenho sim, meus pais são (bons) médicos. Mas nada disso justifica a postura dos funcionários do Lifecenter. O sistema de saúde tá errado. Mas em quem tá doendo, não é justo fazerem doer mais.

Wednesday, June 03, 2009

Da(s) Menina(s)*



Lascívia estava com o coração doendo. Pensava sobre suas últimas relações e convenceu-se de que os homens da sua idade não se apaixonam mais. Será que os homens de 35 pensavam diferente daqueles que, lá pelos 26, lhe faziam juras de amor eterno? Ou seria a fluidez das relações na pós-modernidade? Apelou, primeiro, para o amor líquido: champanhe para amainar a dor. Uísque para deixar momentaneamente o mundo mais bonito.

Lascívia, álcool na veia e olhos de ressaca, desabafava com seu fiel amigo Charlinho numa mesa de bar. Copos e camel para exalar a fumacenta angústia:

- Sabe que às vezes penso que se relacionar com mulher seria mais fácil...
- Por que você não tenta?, perguntou já com os olhinhos brilhando, imaginando uma cena imprópria para aqui ser descrita. Muito imprópria, porque afinal vinha do imaginário do Charlinho.

E Charlinho levou Lascívia cambaleante para uma boate GLS.

- Hum... muito novinha essa. Essa outra muito masculina... Hum, tá foda! - repetia Charlinho para si enquanto procurava uma candidata para a amiga.
Até que a montanha chegou a Maomé. Atraída por Lascívia, ela veio de shortinho e rasteirinha. Brincos brincando de se enroscar no cabelo grande. Um sorriso largo enfeitava o rosto. A conversa e o jeito a deixavam mais bonita. Volúpia era seu nome.

As meninas conversaram por horas e horas, enquanto Charlinho olhava para Lascívia como quem diz: "Beija logo, porra. São cinco da manhã". E Lascívia retornava também com os olhos: "Calma, é estranho". Até que para amenizar o estranhamento, Volúpia vedou os olhos de Lascívia com as mãos e beijou-a na boca.

Lascívia pensava no quanto Volúpia beijava bem ao mesmo tempo em que tentava se acostumar com aquela cinturinha. As mãos de Lascívia não se moviam, ficaram presas, estáticas naquela cintura onde batiam os cabelos de Volúpia. Não conseguiu deixar de estranhar aquele corpo delgado e tão feminino. Deu mais um selinho e saiu correndo, deixando para trás só o endereço do email.
As duas trocaram emails e telefones. Mas ambas souberam-se incompatíveis. Lascívia confessou que testosterona lhe faz falta. Volúpia disse que cansou de se envolver com heteros de espírito aventureiro. Decidiram ser amigas. Mas às vezes se olham sabendo que Volúpia encontrou tudo que ela queria numa mulher. E Lascívia achou em Volúpia tudo que falta num homem. E brincando, não cansam de cantar: "Eduardo e Mônica eram nada parecidos..."

*Inspirado no filme Vicky Cristina Barcelona



Thursday, May 28, 2009

Do felizes para sempre



"- Sempre! Que palavra horrível! Estremeço só de ouvi-la. As mulheres gostam muito de empregá-la. Estragam todo e qualquer romance, tentando fazer com que dure para sempre. É também uma palavra sem sentido. A única diferença entre um capricho e um casamento é que o capricho dura um pouco mais" (Lord Henry, personagem do Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde - séc XIX)

Resposta da Mulher (séc XXI):

-  Já aprendemos que o "Felizes para Sempre até que a morte nos separe" é conversa de padre. Acreditamos mais em Chico Buarque que fala sobre o casamento dos pequenos burgueses: "vão viver sob o mesmo teto até que a morte os una! Até que a morte os una!"

Não que estejamos desacreditadas. Tem jeito de ser feliz a dois sim. Mas isso já é assunto para outro post...

Monday, May 18, 2009

Do luto*



Como alguém pode deixar a gente tão destroçado? Que poder é esse que as pessoas têm sobre nós? Quando um relacionamento termina contra a nossa vontade, perdemos o chão e o teto desaba. A vontade nossa, é de nada. Lutamos contra o querer, executando alguém que se fez parte de nós. E o outro vai morrendo dentro da gente por escolha dele. As emoções viram ao avesso quando a ordem racional é desamar, amando. Culpa da perda compulsória. Da saudade insuportável e involuntária de não poder saber de quem se ama, saudade que dói mais.

A legislação trabalhista devia levar isso em conta. Além das licenças a que se tem direito, deveria existir a do período de reestabelecimento sentimental. Seria, por lei, o luto de amor. Uma licença para sofrer um pouco em paz...

*Dedico este texto a você, ainda de luto. Pessoa linda com fonte inesgotável de força. Menina tão avassaladora que nem cabe dentro dela: irradia vida pra mim, pra gente. Mulher que não se economiza, se gasta. Por isso sei que ela continua a lutar e a amar. Ela continua a continuar...
Não preciso dizer que te amo, minha amiga.  



Friday, May 15, 2009

Do jornalismo




Pesquisando sobre a reportagem para a minha tese de mestrado, encontro isso aqui:

"Apesar de enfrentar grandes jornadas de trabalho, longas viagens e entrevistas massantes, o jornalista não pode se deixar levar pelo stress da profissão. Deve tomar consciência de seu papel na sociedade, agindo com ética e responsabilidade, para trazer informação com atitude social às pessoas". (http://www.rabisco.com.br/64/jornalismo.htm)


Jornalista (jornalista mesmo!) gosta da rotina apressada, de sair trepidante pela rua, lugar da reportagem. 
O que estressa é tanto trabalho e responsabilidade pra um salário... ó...!
Mas antes do salário, o emprego. Cadê? 
Sou uma jornalista que ama cometer a diária insanidade de encher o tempo, atopetar o tempo, abarrotar o tempo, paralisar o tempo para chegar antes dele com quatro matérias prontinhas na mão. 
Mestrado, quero tu mais não! Acaba logo e para de atravancar meu caminho jornalístico rua afora. Filosofar e teorizar, gosto mesmo é no boteco! 

Monday, May 11, 2009

Da furada chamada chat

                        
É o Zac Efron? Alguma beldade hollywoodiana? Alguém sabe quem é esse garoto? Um palhaço frequentador do chat da uol está usando esta foto para fazer propaganda enganosa. 

Há três fins de semana, um amigo aparece com uma nova namorada.

- Onde você conheceu ela? - perguntei
-No chat.

Há dois fins de semana, uma amiga de rolinho com um cara massa.

-Onde você conheceu? - indaguei
-No chat.
- hum... - murmurei

Ontem olhando as fotos no celular de uma amiga. "Quem é esse perfeito, maravilhoso???", questionei

-Um cara que eu conheci e tive um rolo.
-De onde?
-Conheci no chat.
-Oxe, doido. Ah não, me passa o endereço aí.

Decidi então me aventurar no bate papo. Enquanto me cadastrava no site, lembrava otimista dos meus 15 anos em Recife, época em que os gatinhos do colégio e a porção mais cobiçada de Boa Viagem eram presença virtual garantida no MIRC. Onze anos depois, na sala virtual de BH, depois de muitos "Oi, princesa quer tc?", "Boa noite, por gentileza, poderia me conceder a honra de te conhecer?" ou "Larguei a faculdade para montar a banda de pagode 'Bigodes e Remelexo'", estava quase desisitindo quando encontro um jornalista interessante tudo a ver. E eis que, depois de adorar a conversa, ele me envia a foto acima dizendo ser ele. "Ganhei na loteria também", pensei. Mas meu sagaz amigo frequentador das ditas salinhas me alertou para que eu tomasse cuidado:

 -Pode ser mentira. Ele pode ter pegado esta foto na net.
- Não é possível, já estou combinando de encontrar com ele. Como que ele vai aparecer com outra cara?
- Tá bom. Combina então. Vou encontrar com uma amiga também. Podemos ir os quatro. 

E não é que, com tudo combinado, o palhaço me manda uma foto da realidade, da realidade do seu ser! 

- Que barba é essa? E o nariz... tá diferente... a pele... Ó!!!!!!!! Você não é você!!!!!!!!
- É que na outra foto eu estava mais novo e de óculos.

Posso com tamanha cara de pau? Sacanagem da porra! Frustrada, fui pra night belorizontina. No lugar, os homens interessantes e do meu tipo já tinham se escolhido entre eles. É, as pessoas estão se assumindo, o mundo está mudando. Aliás, já está diferente. O que não deixa de ser bom... 

Mas conclusão:

1. Nunca mais entro em chat!
2. Já perdi as esperanças de casar na igreja, com direito a véu, grinalda, pétalas no chão e um noivo lindo, honesto e hétero no altar.

Moral da história: "almas gêmeas" não se cadastram em site de relacionamentos.


Tuesday, May 05, 2009

Dos desejos



A Branca (http://scriptmanent.blogspot.com/) me presenteou com este selinho. Eu, avessa a correntes que sou, a essa aderi em função da singela proposta da lista obrigatória (de 8 coisas a se fazer antes de morrer) e da possibilidade de estreitar os laços na blogosfera. Aliás, adorei esta tal idéia dos selinhos. Obrigada, Branca! Primeiro, as regras:

1 – A pessoa selecionada deve fazer uma lista com oito coisas que gostaria de fazer antes de morrer.

2 - É necessário que se faça uma postagem relacionando estas oito coisas e é necessário que a pessoa explique as regras do jogo.

3 – Ao finalizar, devemos convidar oito parceiros de blogs.

4 – Deixar um comentário para quem nos convidou.


Minha Lista:

1- Escrever um romance
2- Fazer um trabalho voluntário
3- Ler os clássicos que picaretei e não li no colégio (o porquê disso rende outro post)
4- Me apaixonar por alguém que valha a pena (para isso preciso mudar alguns valores)
5- Mudar alguns valores
6- Ter um filho
7- Conhecer o Léo do BBB9 (Brincadeira, brincadeira). Brincadeira o c..., verdade pura! Tá vendo que preciso mudar alguns valores? Gente, me apaixonei por ele de verdade, mesmo nunca dantes tendo visto, mesmo ele estando em um reality show passível de julgamentos escabrosos e, ainda assim, tendo surtado no quarto branco! Achei que não tinha mais idade para isso.. mas não é que em vez do vírus do porco, fui pega pelo vírus platônico? Freud até explica, mas aqui não revelo!
8- Descobrir o elixir da juventude e começar tudo de novo.

P.S- conversando com meu amigo jornalista no msn, o mesmo que fez a minha descriçao que está no blog (no canto superior direito),  coloquei a minha lista de oito coisas. A primeira que desejei, inicialmente era "parar de fumar para não morrer estupidamente em consequência do cigarro". Então debati com ele:

- Acho que vou mudar esse do cigarro e colocar "escrever um livro". É mais "importante"... rsrsrsrs
- Muito mais importante. Até porque como vc vai escrever o livro sem fumar?

Eis o clássico pensamento jornalístico!!!

Blogs que presenteio:

http://passagemparabelem.blogspot.com
http://besantanna.blogspot.com


Monday, May 04, 2009

Da nostalgia



Nos tempos de infância:
Os pais são perfeitos
O futuro é brilhante
O príncipe encantado está a caminho
A escola sempre é recreio
As maiores alegrias são dia de banho livre, piscina de Gravatá, piscina de plástico de tio Agostinho, bolinhas de brigadeiro com granulado de tia Celina
Os maiores problemas são: 
1. os restos das suas bolinhas de brigadeiro de tia Celina nos dentes do irmão mais velho 
2. o tamagoshi que eu não desgrudava nem na hora das refeições, deslizando da mão e se afogando na minha caneca de leite. Ploft! Queria morrer junto com meu bichinho eletrônico asfixiado na minha falta de zelo...

Nos tempos de hoje:
Os pais também têm defeitos
O futuro é distante
O príncipe encantado é criação de Walt Disney
A escola não é garantia de emprego
As maiores alegrias a gente bebe com o copo de cerveja e apaga num cinzeiro
O maior problema é o nosso castelinho de infância, já bambo, perdendo as pilastras, soltando o reboco...

Monday, April 27, 2009

Da cachaça


Fotógrafa sensacional: Nathalia Turchetti
Modelo desvairada: Sabina insustentável (a garrafa é meramente ilustrativa e sem conteúdo alcóolico. Sabina Insustentável não bebe e o texto é inspirado em experiências alheias)

Era bom que, quando a gente tomasse uma, qualquer tipo de meio de comunicação deixasse de funcionar. Detectado o bafo do álcool, um dispositivo poderia ser acionado e o celular, msn e afins seriam automaticamente desligados. Infelizmente, a microsoft e as operadoras de celular ainda não perceberam o perigo da combinação bebida-produtos eletrônicos. Nem o Ministério da Comunicação... que poderia advertir: o álcool combinado aos meios de comunicação destroem a moral.

Thursday, April 23, 2009

Dos canalhas



Mais uma das peças de bar.
Sozinha, aguardando a chegada de um amigo, não pude deixar de prestar atenção em oito mulheres sentadas na mesa ao lado. Resumo da conversa entre todas: Homem cafajeste é que nem cigarro: vicia, dá prazer, mas faz um mal do caraio.

Ah! E a maioria dos "homens-cigarro" são batizados com uma misturinha alucinógena...

E a mulher fica tonta, vendo coisa, enxergando um futuro que nem existe.


vai um aí?

Wednesday, April 22, 2009

Da essência



Pandora sempre foi uma caixinha de surpresas. Desde pequena surpreendia a famiília com sua sagacidade e jeito imprevisível. Começou a ler antes de aprender na escola. No carro com a mãe, o jornal em cima do colo, soletrou uma palavra da manchete principal: PE-CA-DO. A mãe quase bateu o carro de susto... e orgulho. Mal sabia ela que há muito Pandora costumava segredar para si as palavras dos outdoors da cidade. Tinha só cinco anos.
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Cresceu ouvindo que o sexo feminino deveria prezar a independência porque os homens não prestam. Com 16 anos e corpo de mulher começaram os estragos. Aos 22 - estagiária de uma empresa de comércio exterior -, de tailler moderninho e salto agulha, pisoteava corações masculinos. O figurino era recheado com um corpinho de 1.75 m e clássicas medidas 90-60-90.
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Aos 25, já contratada pela empresa de comércio exterior, as medidas mudaram. Ela não. A primeira e a última ganharam alguns ml de silicone: 96-60-102. Números não mais arredondados, em compensação o corpo sim. Este também ganhou mais adeptos.
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Cercada de "homens vazios", como ela mesma dizia, fazia do jogo da sedução seu melhor passatempo. E o sofrimento dos pobres que se achavam pretendentes, sua melhor recompensa. Cultivava nos outros os pecados da luxúria e da ira. Controlava a avareza, a gula e a preguiça. Despertava a inveja feminina. Emanava soberba.
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Aos 29, funcionária pública bem sucedida e residindo nos arredores da Lagoa Rodrigo de Freitas, perdeu a graça de viver. Sentia falta de um bração constante que a envolvesse na hora de dormir. Alguém do sexo oposto para lhe fazer carinho no domingo à noite. Pra brindar um cálice de vinho tinto num dia feliz. Pra brigar pela fatia de bolo mais recheada. Queria um filho.
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Conheceu Matoso, nordestino da porra, funcionário público em estágio probatório. Bonitão, morenão, machão, diferente dos tipos modernos e sensíveis a que tinha se acostumado. Ficou louca. Ele cultivou nela a luxúria, a ira, a gula e a preguiça. Ela passou a despertar a compaixão feminina quando deixou a soberba embrulhada na gaveta da escrivaninha do Matoso. Aos 32 casou, teve 3 filhos homens e emendou a licença maternidade com o trabalho doméstico.
Pandora descobriu-se Amélia...

Tuesday, April 21, 2009

Da música



E eu que não costumava usar Ipod, colei música nos ouvidos nos últimos dois dias.
Não é que as ruas ficaram bem mais bonitas com trilha sonora?

Monday, April 20, 2009

Do filho do autor

Ontem, mal humorada e a muito custo, abri o livro para estudar. "Tudo que é sólido desmancha no ar", uma análise da modernidade feita por Marshall Berman. Ainda no prefácio, no último parágrafo dele, meu coração ficou do tamanho de uma jujuba:
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"Logo depois de terminado este livro, meu filho bem amado, Marc, de cinco anos, foi tirado de mim. A ele eu dedico Tudo que é sólido desmancha no ar. Sua vida e sua morte trazem muitas das idéias e temas do livro para bem perto: no mundo moderno, aqueles que são mais felizes na tranquilidade doméstica, como ele era, talvez sejam os mais vulneráveis aos demônios que assediam esse mundo. (...) Manter essa vida exige talvez esforços desesperados e heróicos, e às vezes perdemos. Ivan Karamazov diz que, acima de tudo o mais, a morte de uma criança lhe dá ganas de devolver ao universo o seu bilhete de entrada. Mas ele não o faz. Ele continua a lutar e a amar; ele continua a continuar" (BERMAN, 1981, p.14). Essa última frase grifei até furar a página.
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Já fechei o livro ainda no início (como bem podem comprovar na página da citação) e fui pesquisar sobre o Berman e seu filho. Me encantei pelo teórico e seu otimismo. Sobre Marc, segundo o comentário de uma duvidosa menina em um blog, parece que ele caiu da janela. O que não deixa de fazer sentido de acordo com a dedicatória. Para além de interpretações de cunho histórico e econômico como fez Marx em seu Manifesto Comunista - lugar da frase que dá título ao livro do Berman - o caso ilustra bem como, hoje em dia, mais do que nunca, Tudo que é sólido desmancha no ar. Contraditoriamente, o que deve ser fixo, rijo e certo, num instante vai-se embora: a vida, de uma hora pra outra. "A rotina diária dos parques e bicicletas, das compras, do comer e limpar-se, dos abraços e beijos costumeiros, talvez não seja infinitamente bela e festiva, mas também infinitamente frágil e precária" (BERMAN, 1981, p.14)
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Depois desse trecho e da pesquisa na internet, devorei o livro. Também recomendo as páginas depois do prefácio. Analítico sem ser chato, o livro é feito com sensibilidade. Mais um caso em que o sólido se desmancha no ar.

Friday, April 17, 2009

Da saudade, da saudade...

Eu e meu amigo publicitário Bê Sant'anna falávamos hoje sobre saudade. No seu blog (http://besantanna.blogspot.com/), ele escreveu que "A saudade longe é difícil. A saudade perto é phoda". Minha primeira reação diante dessa frase que parece mais não é paradoxal, foi uma cara de "hã?". Mas depois, por experiência própria, entendi o que de tão lindo Bê disse. Para mim, ele quis dizer o que escrevi logo ali embaixo, uma frase da crônica de Martha Medeiros, que eu lembrei quando senti... e ainda sinto: "Saudade é não querer saber e, ainda assim, doer". E é bom viver para entender coisas assim, de uma dor que substitui outra, como essa saudade que a gente escolhe ter esperando que o tempo apague o que antes doía, mas não era saudade...
Essa, sem dúvida, é mais phoda que a geográfica saudade de quem, inevitavelmente, está longe. Saudade longe tem cura alegre. Saudade perto machuca até ir embora.
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Coloco em seguida mais um trecho dessa crônica da Martha que, como bem disse Bê, "'É isso":
(...)A saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
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P.S- No Blog da Mari (http://passagemparabelem.blogspot.com/), tem a crônica na íntegra. Três blogs linkados pelas cabecinhas aí do lado, como fofamente diz a Mari em um post seu, e pelo tema saudade...

Wednesday, April 15, 2009

Da gula compartilhada


Não dá para ver, mas, na mesa, restinhos de filé empanado com molho de gorgonzola
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Depois de uma temporada na Europa, meu amigo Klaus decidiu controlar a alimentação, achando que ganhou quilinhos a mais fora do Brasil. Também pudera, já viajei com o Klaus e vi que ele é dos meus... tem alma de gordo! Difícil resistir a uma fritura, fast food, pizza com um metro de recheio e tantão de queijo que, puxado pelo garfo, tem uma elasticidade que vai no teto (ai, lembrei da de palmito da Pizzaria Guanabara!) e todas essas besteiras que fazem o acúmulo suado de exercícios físicos constantes irem para o saco num único feriado em que saímos da rotina.






Para se ter uma idéia, nosso cardápio numa manhã carnavalesca na praia de Ipanema:





  • antes de chegar na praia, paradinha na lanchonete para um enrolado e coca normal (no feriado coca normal pode)


  • já na praia de Ipanema, (muita) cerveja, milho cozido, queijo na brasa, biscoito O Globo, Castanha de caju (ou seja, tudo que passou pela nossa barraca)


  • No caminho para a praia do Leblon, R$ 7,50 no sorvete magno de doce de leite transportado no carrinho, por isso mais caro. E condeno o Klaus por ter me aplicado nesse magnífico sorvete, hoje mais uma tentação a resistir.


  • Na praia do Leblon, alguns coliformes fecais que provavelmente ingerimos durante o mergulho que não deveríamos ter dado.

Enfim, Klaus voltou da Europa decidido a fazer dieta. Telefona e me chama para um açaí. Penso: "Poxa, tá saudável mesmo". Acordei com essa ligação dele, fome danada, fazendo jus à comunidade mais bem bolada do orkut "comer dá sono e dormir dá fome". Numa vontade sem igual de comer Mac, pensei comigo mesma sugerir a comida do Ronald convicta, claro, de que ele não ia negar (era domingo. No domingo pode). Saio da portaria, vejo-o na janela do carro acenando e dali mesmo grito: "Quero Mac!!!". Ele gritou de volta: "Ah, não!". Penso no trajeto portaria-carro do Klaus: "Poxa, ele tá determinado mesmo". Mas ao entrar no possante, fechando ainda a porta, escuto: "Animo da gente comer na Mac e depois ir na easy ice comer o açaí". Rá! Esse é o Klaus. Somos nós, aliás.





P.S- Na fila da Mac, com vontade de Mac Duplo, mas querendo a maionese do Mac Chicken, fiquei com preguiça do martírio da dúvida hamletiana... e pedi os dois. Klaus, querido amigo médico, um apelo! Se quiser continuar sendo meu amigo, mude de especialidade. Cirurgia Plástica, por favor. Nesses tempos em que temos andado juntos, o sol tem brilhado mais e as noites têm sido mais iluminadas. Mas a lua cheia não precisa brilhar na minha cara !




Saturday, April 11, 2009

Dos conceitos

Fazer um mestrado em busca de mais conhecimento. Esse foi o meu propósito maior. Nem sabia (e continuo não sabendo) se iria enveredar pelos hoje-sei-tortuosos caminhos acadêmicos. Escolher o curso de Letras, foi no intuito mesmo de ampliar o saber, adentrando noutro universo das ciências humanas que não o da minha graduação, o jornalismo. Mas as coisas não foram tão românticas como eu imaginava. Penderam mais para o deprimido poema do Beco* de Bandeira ou para um desaforado Gregório de Matos, quando da melancolia e desânimo eu atravessava para a fúria emitindo impropérios pela minha boca que mais parecia do inferno.
Além do trio de professores tiranos que o levado destino me aplicou, a teorização de determinados conceitos me irritavam profundamente.
O QUE É LITERATURA?
Eu pensava cá comigo "sei lá, porra", sentada, dura, numa cadeira pra mim elétrica, com aquela stalinista de sotaque venezuelano me encarando com um fuzil nos olhos e fazendo essa pergunta idiota. Depois fui pensando meu conceito e, como jornalista, já tenho um pronto: "Literatura é escrever sem apurar" e ponto final.
Me irritava mais ainda as teorizações sobre a diferença entre autor e narrador, as discussões sobre a morte do autor (af!) e qualquer outra bobajada que me fez, por dois anos, não ler um livro levemente... como eu lia antes do mestrado. Tentar fazer da literatura uma ciência? Então tirem a graça dela como bem o fizeram nesse programa de pós-graduação (não sei dos outros pelo Brasil, falo da minha experiência)!
E naquele tempo de teorias "profundas" ia me dando saudades da aurora da minha vida, minha infância, quando eu tinha só que responder perguntas do tipo:
- O que é o vento, Patrícia?
-É o ar em movimento, professora.
Resposta simples e direta. Mas que pelo menos faz um sentido danado.
*O poema do Beco para quem não conhece:
Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
— O que eu vejo é o beco
(Manuel Bandeira)